Uma pessoa com muito conhecimento financeiro e pouca disciplina fracassará em seus investimentos.
Já uma pessoa com muita disciplina e um pouco de conhecimento terá sucesso.
A diferença entre elas?
Economia comportamental.
Dominar conceitos básicos de economia comportamental e de finanças comportamentais é essencial para que você seja um bom investidor.
Por quê?
Porque de nada adianta você dominar o investimento em bolsa de valores, títulos públicos e imóveis se você não tiver uma boa inteligência emocional.
Do que adianta criar um completo plano de investimentos, se você não o seguir?
Ou do que adianta você organizar as suas finanças pessoais, se for colocar tudo a perder em seus investimentos?
Pois é.
Por isso, precisamos entender quais são os nossos maiores vilões quando investimos.
E vá por mim: a maioria desses vilões são internos.
Recentemente, apresentei o conceito do “Paradoxo da Inteligência Financeira” nesse artigo do HC Investimentos e, também, nesse vídeo do nosso canal no YouTube:
Aliás, se você gosta desse formato de vídeos eu te recomendo ler esse artigo com os 12 melhores canais de finanças e investimentos no youtube.
Mas voltando aqui ao assunto desse post… Agora, quero ir além nesse ponto.
Quero te mostrar quais são os principais viéses comportamentais que podem te fazer tomar péssimas decisões no mercado financeiro.
E, para isso, recorri a um grande investidor por quem eu tenho muita admiração: Jae Jun, do blog “Old School Value“.
Assim como recentemente o Vishal, do Safal Niveshak, permitiu que eu traduzisse um de seus melhores artigos para o Clube do Valor, o Jae fez o mesmo.
E é assim que eu trago, em primeira mão, esse seu completo artigo chamado “19 Tendências Comportamentais que Fazem Você Tomar Más Decisões e Parecer Insensato”.
Como você deve ter percebido, eu tomei a liberdade de alterar um pouco o título na tradução.
Entretanto, deixei o restante do artigo totalmente intacto.
Nele, Jae utiliza um discurso de Charle Munger, braço direito de Warren Buffet, para ilustrar 19 viéses emocionais que estão presentes em nossos investimentos.
Parece interessante?
Então continue lendo esse artigo para saber mais sobre…
- A importância do reforço e do incentivo
- O conceito de negação psicológica
- O risco que corremos ao analisar tendências passadas como probabilidades futuras
- A tendência da reciprocidade
- O perigo da influência que uma autoridade pode fazer na gente
- A natureza não-linear e não-matemática do cérebro humano
- Como o stress pode alterar a nossa percepção das coisas
Aproveite o conteúdo do Jae!
Ah, e se você quiser acessar o artigo original, basta clicar nesse link.
19 TENDÊNCIAS COMPORTAMENTAIS QUE FAZEM VOCÊ TOMAR MÁS DECISÕES DE INVESTIMENTOS
Ao investir, você possui um objetivo principal:
Lucrar com seus investimentos.
Podemos concordar que nesse aspecto, ninguém gosta de ser passado para trás – por nós mesmos ou pelos outros. E certamente não queremos tomar decisões ruins.
Mas fazemos isso constantemente.
E repetidas vezes.
E muitos se recusam a fazer algo a respeito para mudar essa situação.
Em tese, concordamos que estamos envolvidos no mercado para ganhar dinheiro.
Mas o nosso comportamento não reflete isso. É só teoria.
Warren Buffet não chegou ao nível em que está esquecendo dos prejuízos que sofreu e das causas dos mesmos.
Buffet abominava a possibilidade de perder dinheiro ou de falhar em vê-lo produzir rendimentos.
Ele sabia que precisava de cada momento de tração e impulso para acumular lucros.
TENDÊNCIAS COMPORTAMENTAIS QUE CAUSAM ERROS IMPRUDENTES E DECISÕES RUINS
Munger também coloca isso em termos bem simples.
Ele fala muito sobre os viéses comportamentais que fazem você cometer os mesmos erros repetidas vezes.
Viéses dos quais você sequer é capaz de identificar.
E a melhor maneira de combater esses viéses é, primeiramente, através do reconhecimento de suas fraquezas, e depois com a tomada de medidas para prevenir esses comportamentos.
Em 1995, Charlie Munger fez um discurso direcionado a estudantes de Harvard conhecido como “A psicologia dos erros de avaliação humanos.”
Ao ver os seguintes exemplos, tente lembrar-se de alguns casos que demonstrem como esses vieses cognitivos se mostram aparentes em sua vida ou seus investimentos.
1. Subestimar o reconhecimento do ‘reforço’ ou de ‘ incentivos’
No início da história da Xerox, Joe Wilson, que então fazia parte da administração, teve que retornar à seu antigo papel na companhia porque não conseguia entender como a máquina nova e superior da empresa estava vendendo tão pouco em relação à maquina mais velha e inferior.
Claro que, ao passar pelo setor referente na empresa e inspecionar, ele descobriu que o acordo de comissão com os vendedores garantia um enorme incentivo à venda da máquina inferior.
2. Simples negação psicológica
“Se você ligar a televisão, verá mães dos mais óbvios criminosos a acreditarem que seus filhos são inocentes.
A realidade é dolorosa demais para suportar e, portanto, as pessoas a distorcem até que se torne suportável.
Todos nós fazemos isso até certo ponto.
É um erro de juízo de valor psicológico que pode trazer sérios problemas.”
3. Inclinações relativas a causas de incentivo que criam custos para a agência
“A caixa registradora era utilizada como um excelente instrumento moral quando foi criada.
E Patterson sabia disso.
Ele tinha uma pequena loja, onde as pessoas roubavam dele e ele quase não conseguia nenhum lucro, e então, após adquirir algumas caixas registradoras, ele começou a lucrar imediatamente.
E é claro, ele fechou a loja e se juntou ao negócio de caixas registradoras…”
4. Inclinações comportamentais referentes à consistência e tendência a se comprometer
“Se você torna a sua conclusão pública, você está apenas confirmando os seus próprios pensamentos.
Muitos desses estudantes que gritam em nossa direção; você sabe, não estão convencendo a nós, mas tentando formar uma mudança mental neles mesmos, porque o que eles gritam é apenas o que querem confirmar para si próprios. “
5. Interpretar correlações passadas como base confiável para a tomada de decisões
“Você tem dois produtos; suponha que eles sejam complexos e técnicos.
Agora você deve pensar, aplicando-se as Leis da Economia, se o produto A custa X, e se o produto Y custa X menos alguma coisa, irá vender melhor do que se for vendido ao valor de X mais alguma coisa – mas não é assim que funciona.
Em muitos casos, quando você aumenta o preço de produtos alternativos, é possível conquistar uma faixa de mercado maior do que se você colocasse o preço abaixo do valor pelo qual o seu concorrente o vende. ”
6. Propensão cognitiva de tendência à reciprocidade
Quando alguém faz algo por você, você se sente obrigado a fazer algo em retribuição.
Robert Cialdini relata em seu livro “influence” uma história de quando ele foi ao campus de determinada universidade e pediu às pessoas que passavam que levassem alguns delinquentes juvenis ao zoológico.
E no campus, uma em cada seis pessoas convidadas aceitou cumprir a tarefa.
Após acumular uma amostra suficiente para análise estatística, ele foi ao mesmo campus e pediu a várias pessoas que devotassem duas tardes de seus esforços para levar os delinquentes juvenis ao zoológico, dizendo algo como:
“Você toparia passar duas tardes com delinquentes juvenis em algum lugar para ajudá-los?”
Ele recebeu não como resposta em 100% dos casos.
Porém, após esse primeiro pedido, ele recuava um pouco em sua proposta e pedia que os levassem ao zoológico por apenas uma tarde.
Desse modo, ele conseguiu fazer a taxa de conformidade subir para 50%.
Ou seja:
Pedindo “direto” para que os estudantes passassem uma tarde no zoológico com delinquentes juvenis ele conseguia uma taxa de sucesso de cerca de 17%.
Porém, fazendo um pedido maior e, posteriormente, recuando na proposta e apresentando a mesma solicitação de passar apenas uma tarde no zoológico, ele aumentou sua taxa de sucesso para 50%!
Esse sucesso considerável de anuência foi alcançado simplesmente com a diminuição do escopo do pedido inicial.
7. Viéses comportamentais com base no excesso de influência social
Quantos itens você já comprou na Amazon ao ignorar as opiniões de terceiros sobre o produto?
Você compra ações porque um investidor famoso as adquiriu?
Procura se comportar igual ao seus ídolos e pessoas que você admira?
Simples assim…
8. Propensões pessoais baseadas em distorções de sensação, percepção e cognição causadas por contrastes
“Cialdini cita o caso do corretor de imóveis.
Alguém recém-chegado em uma cidade requer os seus serviços, e ele leva essa pessoa, primeiramente, a duas casas extremamente ruins e, ao mesmo tempo, com preços bastante altos.
Logo depois, essa pessoa é conduzida pelo corretor a uma casa de preço apenas moderadamente elevado, o que acaba o convencendo.
E essa distorção funciona, e por isso é geralmente bastante utilizada pelos corretores. E dificilmente falha. “
9. Tendências baseadas em excesso de influência de uma figura de autoridade
“Você tem um piloto e um copiloto.
O piloto é a figura de autoridade.
Em simulações, eles aplicam o seguinte teste (que não é utilizado em voos): pedem que o piloto faça algo que possa levar à possibilidade de colisão e queda do avião, e, mesmo em casos de copilotos que já passaram por várias simulações, os mesmos apresentam dificuldades em agir contra a autoridade do piloto.
O resultado é que em 25% dos casos, esse comportamento do copiloto resulta na certeza de colisão e queda. “
10. Tendências baseadas em situações com reações extremas
“Eu tenho um vizinho, um morador antigo que possuía um pequeno espaço – como uma “ilha” – anexo à sua casa.
Seu vizinho de porta colocou em seu próprio terreno um pinheiro de menos de um metro de altura, que acabava por obstruir a vista do primeiro vizinho em aproximadamente 2%.
A discussão acerca desse pequeno problema tornou-se grave e durou indefinidamente… porque você não retribui apenas afeição; mas também animosidade, e essas coisas saem do controle facilmente.“
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11. Propensões cognitivas com base na inveja
Aqueles de vocês que cresceram com irmãos entendem muito bem em que consiste a inveja.
Ou aqueles que já tentaram administrar uma firma de advogados, um banco de investimentos, ou mesmo uma universidade?
Como Warren Buffett já disse tantas vezes, “não é a cobiça que impulsiona o mundo; mas a inveja”.
12. Propensões cognitivas com base na dependência
“… e sempre envolve uma vasta negação… a tendência de distorcer a realidade para que ela se torne mais suportável”.
13. Predisposições baseadas na compulsão por apostar no que parece ser certo
“Se você tem um jogo de loteria onde as pessoas jogam com números pré-determinados, o número de jogos será mais baixo do que naqueles em que a possibilidade de escolha é mais pessoal e mais ampla.
Novamente, isso está relacionado a tendências de consistência e comprometimento.
As pessoas acham que, se têm maior poder de escolha, melhor a probabilidade de serem números bons.
No momento em que elas escolhem por si mesmas, a aposta ganha uma aparência de maior validade. Porque elas escolheram ativamente. ”
14. Tendências de comportamento ligadas à predileção pessoal
“A tendência de gostar do que reflete a si mesmo, aos seus semelhantes e às suas próprias ideias e estruturas pré-estabelecidas.
É a tendência de ser particularmente suscetível a ser manipulado por alguém de quem gosta (ou de quem as pessoas gostam, de maneira geral).“
15. Vieses cognitivos derivados da natureza não-matemática do cérebro humano
O cérebro tende a ignorar o pensamento racional e a decisão correta, favorecendo o lado emocional.
“Você verá um exemplo isolado em uma senhora idosa da empresa See Candy, uma das nossas subsidiárias, que foi pega realocando fundos de maneira inidônea. E o que ela diz?
“Eu nunca fiz isso antes; e não farei novamente; por favor.”
E você sabe que ela é uma funcionaria antiga, que todos conhecem sua família, e que ela precisa do trabalho, e se encontra em circunstâncias bem mais difíceis que as suas.
Mas qual é a real probabilidade de que ela não tenha feito isso antes?
E de que não o faça novamente?
Se você detecta 10 fraudes por ano, por exemplo, quais serão as probabilidades matemáticas de que cada um desses desvios tenha sido realizado por uma pessoa uma única vez?
E, na histórica da See Candy, isso invariavelmente termina em demissão.
O verdadeiro mal seria não fazê-lo; porque tais comportamentos ruins se espalham com facilidade.
16. Tendências de comportamento influenciadas em excesso por experiências passadas
Ao reviver ou relembrar experiências de maneira vívida, as pessoas passam a acreditar facilmente que o mesmo resultado irá ocorrer se o contexto se repetir de maneira semelhante.
Dado o número infinito de probabilidades, a expectativa e crença de que a história se repetirá tende a influenciar de maneira decisiva (e negativa) o processo de tomada de decisões.
17. Predisposições comportamentais baseadas em dificuldades de entendimento.
Especialmente visível em pessoas que procuram tentar novamente após um período de erros e necessária reorganização mental.
É necessário analisar os fatos e agrupá-los de maneira lógica e teórica, de modo a responder os “porquês” de determinada situação como modo primário para evitar cometer os mesmos erros – ou simplesmente, não é possível proceder e encarar os seus problemas.
18. Predisposições causadas por mudanças mentais influenciadas pelo stress
“Pavlov mantinha vários cachorros em canis, e esses haviam sido condicionados a comportamentos modificados.
Quando a grande enchente de Leningrado ocorreu, e os cães foram submetidos a uma situação de stress extremo, Pavlov percebeu que havia ocorrido nos cães uma completa reversão de suas personalidades condicionadas.
E sendo o grande cientista que era, ele passou o resto de sua vida e carreira analisando cães em situações de stress; o que rendeu resultados que considero bastante interessantes”.
19. Confusão na formação e organização de pensamentos devido à pressão para opinar
Um bom exemplo disso é a cobertura realizada pela mídia na eleição de 2016 (para senadores norte-americanos).
De todos os lados, opiniões mal embasadas e factualmente incorretas.
Esse tipo de comportamento simplesmente cria ruído, e não contribui de maneira positiva para discussões ou decisões cruciais.
“Uma abelha sai e encontra néctar. Ao retornar, ela faz uma dança que comunica às outras abelhas onde o néctar está; para que elas possam ir pegá-lo.
Bem, um cientista conduziu um experimento, similar aos de B.F. Skinner. Ele colocou nas proximidades um néctar mais puro, diferente do que as abelhas geralmente encontrariam em um ambiente natural.
Desse modo, a pobre abelha não possui um programa genético que lhe permita comunicar aquele resultado específico.
E você poderia pensar que a abelha voltaria à colmeia e não faria nada; mas não.
Ela retorna e faz uma dança completamente incoerente e inconsistente com o que lhe é programado.
Isso também se reflete como parte da organização humana: esses aspectos de ruído e reciprocidade, e a comunicação desnecessária que não traz nenhum tipo de contribuição efetiva à tomada de decisões”.
Links adicionais:
CONCLUSÃO: NOSSO CÉREBRO É “PREVISIVELMENTE IMPREVISÍVEL”
E aí, o que você achou do artigo do Jae?
Interessante, não é mesmo?
Para mim, é surpreendente a capacidade de Munger identificar ideias poderosas e sintetizá-las e explicá-las de forma didática e com muitas histórias.
Bom, espero que você tenha gostado desse segundo artigo da série de “Artigos Traduzidos”.
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Agora, quero saber: qual dos 19 viéses apresentados você achou o mais interessante?
Conseguiu identificar alguma tendência de comportamento que você possui?
Compartilhe comigo nos comentários!
Forte abraço,
Ramiro Gomes Ferreira