Você já ouviu ou leu a expressão “colchão de liquidez”?
Se você está começando a sua jornada para conquistar a independência financeira, é muito provável que ainda não.
Afinal, esse é um termo bastante específico dentro do mercado financeiro.
Porém, ele é extremamente importante para a construção de seu patrimônio.
Isso porque ele serve para oferecer a segurança necessária que todo investidor precisa antes de começar a investir.
Leitores mais atentos do Clube do Valor provavelmente vão se lembrar do artigo em que escrevi sobre Reserva Financeira.
Uma “reserva financeira” é basicamente um sinônimo para colchão de liquidez.
Contudo, neste artigo darei uma abordagem diferente para este assunto, reforçando alguns dos conceitos que tratei há alguns meses.
Também explicarei o maior erro que as pessoas estão cometendo ao iniciar a construção do colchão de liquidez.
Se você é um investidor conservador, pode se surpreender com essa revelação.
Portanto, prepare-se para entender um dos conceitos mais importantes sobre finanças pessoais e que muitos investidores de sucesso colocam em prática logo no começo da caminhada para sair da “corrida dos ratos”.
Parece interessante, não é mesmo?
Então leia este texto até o fim para aprender detalhes importantes, como:
- O que significa o termo “colchão de liquidez”
- Por que você deveria começar a cultivar o seu agora
- A importância do colchão de liquidez para o seu sono
- Por que mesmo os grandes investidores fazem uso desse mecanismo para a construção de patrimônio
- Os melhores investimentos para formar seu colchão de liquidez
- Por que esse conceito é importante mesmo para quem tem idade avançada
Se você conhece mais alguém que se preocupe com a sua saúde financeira, compartilhe este texto com essa pessoa.
É muito provável que ela também não conheça este conceito e que tenha muito a ganhar lendo este artigo:
O QUE É LIQUIDEZ?
“Liquidez” é uma daquelas palavras bem estranhas para quem não está acostumado com termos financeiros.
Entretanto, analistas e investidores a utilizam praticamente todos os dias para tratar de seus negócios.
E quem não entende o que essa palavra significa, pode acabar confundindo-a com outros termos.
Rentabilidade, rendimento e retorno sobre o investimento (ROI) são apenas alguns exemplos que acabam gerando certa confusão.
Mas afinal, o que significa “liquidez”?
De uma forma bem simples, podemos definir liquidez como a capacidade de transformar um ativo em dinheiro.
Quanto mais rápida essa conversão, “mais líquido” será esse ativo.
Se essa transformação acontecer de forma lenta, dizemos então que trata-se de um investimento com baixa liquidez.
E, antes que você pergunte, eu respondo o que significa o termo “ativo”: trata-se de um bem ou um investimento, como um imóvel, um título público ou até mesmo uma dívida de uma empresa privada (como um CDB).
Caso você queira se aprofundar um pouco mais nesse assunto, recomendo o artigo do meu amigo Eduardo Harada, escrito para o site Tudo Sobre Investimentos tratando exatamente esse tema.
Lá ele também trata sobre a liquidez em alguns tipos de investimentos, além de explicar a diferença entre liquidez e rentabilidade.
COLCHÃO DE LIQUIDEZ, O PRIMEIRO PASSO PARA UMA VIDA TRANQUILA
Agora que já sabemos o que é liquidez, é possível entender o que significa colchão de liquidez, também chamado por alguns de colchão de segurança.
A partir desse sinônimo já é possível entender qual é o seu propósito.
O colchão de liquidez é o dinheiro que você precisa ter em uma aplicação financeira segura e acessível, de forma que você possa resgatá-lo a qualquer momento caso tenha algum imprevisto ou necessidade específica e imediata.
A formação do colchão de liquidez é o primeiro passo para quem deseja começar a investir.
Sim, se você pensar em investir, deve começar a se preocupar com esse assunto.
Sem isso, os seus investimentos ficam desprotegidos e você corre o risco de não conseguir sustentar o hábito de investir por muito tempo.
Além disso, ficamos vulneráveis diante de situações em que precisamos de dinheiro de forma inesperada, tais como:
- A morte de um ente querido
- Uma viagem para um país estrangeiro (muito importante também saber sobre o Seguro Viagem e o Tratado de Schengen)
- Gravidez não planejada
- Uma excelente oportunidade para adquirir um imóvel (não se esqueça do nosso Guia Completo)
- Mudanças (forçadas ou espontâneas)
- Perda de emprego
- Acidentes
- Necessidade de fazer uma compra gigantesca no supermercado por causa de uma ocasião especial (lembrando que ainda sim é possível economizar)
Nesses casos (alguns desejáveis e outros nem tanto), é preciso ter a certeza de que você vai poder lidar com a situação sem comprometer seus investimentos.
Se para enfrentar as emergências você precisa mexer na sua fórmula de riqueza, todo o seu esforço pode ir para o buraco.
Com um colchão de liquidez, você pode surfar nos seus investimentos com a segurança de que o seu patrimônio está protegido.
É como eu já disse: a reserva financeira funciona como um remédio tranquilizante para o seu patrimônio.
É o que te permite dormir caso alguma operação de investimento não tenha saído conforme o planejado.
Se isso acontecer, você sabe que estará sustentado pelo “colchão macio” que preparou para uma queda dessas.
Lembrando que, como eu expliquei em meu artigo sobre reserva financeira, é preciso pensar muito bem na hora de gastar o seu dinheiro do colchão de liquidez.
Será que a emergência que surgiu é realmente tão importante assim?
É possível postergar o gasto de sua reserva para descobrir se ela é verdadeiramente essencial?
Faça perguntas como:
- Preciso realmente trocar de carro neste momento?
- Devo gastar tanto assim com um presente de casamento/aniversário?
- A reforma no meu apartamento não pode esperar mais um pouco?
Pratique esse exercício antes de mexer no principal pilar da sua independência financeira.
QUAL DEVE SER O TAMANHO DO MEU COLCHÃO DE LIQUIDEZ?
Aqui não há segredo e a regra é bem simples.
Para saber o tamanho do seu colchão de liquidez, é preciso primeiramente calcular o valor de sua despesa média mensal.
Leve em consideração todos os gastos que você tiver, incluindo aluguel ou condomínio, água, luz e mensalidade de serviços (TV a cabo, Netflix, plano de celular, etc).
Inclua nesta soma também um valor variável de cerca de 10% da sua despesa mensal total, para sua própria segurança.
Afinal, os gastos podem variar um pouco de um mês para o outro.
A partir disso, é preciso acumular o montante equivalente ao valor de X meses.
“X” meses?
Alguns consultores consideram que o ideal é considerar a quantia referente a 3 meses de despesas.
Outros acreditam que o melhor é levar em conta os gastos acumulados de 12 meses.
A verdade é que o tamanho de seu colchão depende de vários fatores pessoais, como:
- Quantidade de dependentes da sua renda
- Seu tipo de trabalho (empreendedor ou funcionário público?)
- Tempo de serviço (novo numa empresa ou funcionário de carreira?)
Minha sugestão é que você avalie bem o seu caso.
Na dúvida, opte por fugir dos extremos e reuna a quantia suficiente para seis meses de subsistência.
O MAIOR ERRO DAS PESSOAS QUE ESTÃO COMEÇANDO A CONSTRUIR SEU COLCHÃO DE LIQUIDEZ
Muitos provavelmente devem ter pensado na Caderneta de Poupança quando eu expliquei a definição de liquidez.
Afinal, trata-se de um “investimento” de complexidade 0 (fácil aplicação e entendimento), isenção do Imposto de Renda e proteção do Fundo Garantidor de Crédito (FGC).
É o queridinho do povo brasileiro.
Porém, muitos esquecem as desvantagens que essa modalidade traz para os investidores.
Uma delas é o fato de que a rentabilidade está atrelada à sua data de aniversário de aplicação.
Ou seja: se você resgatar o seu dinheiro antes do dia do mês de abertura da caderneta, vai perder os rendimentos desse mês corrido.
Mas esse não é o fator que acaba transformando esse “investimento” no maior erro daqueles que estão construindo o seu colchão de liquidez.
O problema da Caderneta de Poupança é a rentabilidade.
Ou melhor, a baixa rentabilidade ou o retorno sobre o investimento (da sigla ROI).
Esse é o motivo pelo qual tenho colocado a palavra “investimento” entre aspas ao me referir à poupança.
Em 2015, essa modalidade rendeu míseros 8,07% ao longo do ano.
Sabe o que isso significa?
Significa que a Caderneta de Poupança não foi capaz nem de repor a inflação do período, que foi de 10,67%.
Ou seja: se uma pessoa manteve seu dinheiro na poupança durante o ano de 2015, significa que o seu ativo perdeu valor.
O dinheiro passou a valer menos após esse período.
Um quadro nada agradável para quem está planejando montar um colchão de liquidez que deve estar pronto para cobrir (com qualidade) qualquer imprevisto.
E eu nem vou falar sobre as desvantagens da Previdência (também chamada de Previdência Privada ou Previdência complementar) como uma formadora de fundo de reserva.
Além de bloquear resgates nos primeiros meses, o que mata a questão da liquidez, alguns planos também apresentam rendimentos bem ruins, quase próximos à da Poupança por causa das taxas e impostos.
Mas isso é questão para outro artigo, no futuro 😉
MELHORES INVESTIMENTOS PARA FORMAR SEU COLCHÃO DE LIQUIDEZ
Agora que você já sabe a importância do colchão de liquidez e sabe como fugir do principal vilão da construção dessa reserva, está na hora de conhecer os agentes que vão te ajudar nessa missão.
Alguns deles já são bem conhecidos dos leitores do Clube do Valor.
Outros, entretanto, podem ser uma novidade para você.
Por isso, sugerimos bastante atenção na leitura para que você possa escolher a melhor opção de acordo com as suas possibilidades financeiras e perfil de investidor.
Lembrando que todas as opções a seguir possuem uma característica em comum.
A esse ponto você provavelmente já deve estar com a palavra na ponta da língua: liquidez.
Os investimentos que listamos abaixo podem ser rapidamente convertidos em dinheiro para ser usado em uma emergência;
E lembre-se: apenas em emergências.
1. Títulos públicos
Os títulos públicos federais estão se transformando na “nova poupança” do brasileiro.
E isso é uma coisa muito boa.
Cada vez mais e mais pessoas se apoiam nesse investimento seguro e com uma rentabilidade às vezes muito superior do que a oferecida pela Caderneta de Poupança.
Para quem não sabe, os títulos públicos negociados por meio do programa Tesouro Direto estão expostos ao mesmo risco do governo federal.
Portanto, enquanto a economia do país estiver em pé, seu dinheiro estará assegurado.
Grosso modo, existem basicamente três tipos de opções no Tesouro Direto: os títulos pós-fixados, os prefixados e aqueles atrelados à inflação.
Eu já abordei absolutamente tudo que você precisa saber sobre o tesouro pré-fixado (LTN).
Para se aprofundar na leitura, clique neste link ou na imagem abaixo e aprenda tudo antes de investir nessa modalidade.
Mas já lhe adianto: ele não serve muito como ativo para seu colchão de liquidez.
No final das contas, a grande vantagem dos títulos públicos é que todos possuem liquidez diária.
Isso significa que o governo se compromete a recomprá-los todos os dias.
Porém, é preciso ter atenção!
Não é sempre que a rentabilidade obtida na hora da venda do título é igual àquela contratada no ato da compra.
Os títulos negociados por meio do Tesouro Direto recebem marcação a mercado, o que significa que seus preços podem flutuar de acordo com as perspectivas para a taxa básica de juros.
Dessa forma, dependendo do título, a venda antes do vencimento pode resultar em uma rentabilidade negativa, algo que você não vai querer para o seu investimento.
Nessa ocasião, o preço de venda chega a ser menor do que o de compra.
Mas ainda há uma alternativa para aqueles que estão preocupados e estão seriamente pensando em usar o Tesouro Direto para a formação do colchão de liquidez.
O Tesouro Selic (LFT), pós-fixado e atrelado à taxa básica de juros, sempre pode ser vendido antes da data de vencimento com um rendimento positivo.
É lógico que isso pode oscilar para menos e para mais, dependendo sempre da taxa Selic vigente, mas é o que geralmente acontece para as compras desse título.
Para entender um pouco mais a diferença entre as opções de títulos, sugiro a leitura deste meu outro artigo aqui (link na imagem também): LTN ou LFT? Descubra Qual Título Público é o Melhor Para Você.
2. CDB
O CDB, ou Certificado de Depósito Bancário, é outra excelente alternativa para quem está começando a formar seu colchão de liquidez.
Quem já conhece o conceito de títulos públicos não tem muita dificuldade para entender o que é um CDB.
Trata-se, na verdade, de uma dívida emitida por uma instituição financeira, e não pelo Governo Federal.
O objetivo é captar recursos para viabilizar as atividades dessas empresas, permitindo ao investidor contrair essa dívida e ser remunerado por uma taxa de juros ao final do prazo contratado.
A única coisa que você precisa checar é se o CDB em questão possui liquidez diária.
Vou repetir, porque isso é importantíssimo: antes de alocar seu colchão de liquidez em CDBs, confira se estes oferecem LIQUIDEZ DIÁRIA.
Em muitos casos, o CDB possui liquidez diária sem perda de rentabilidade para resgates antes do vencimento.
Mas em alguns casos (principalmente naqueles em que o rendimento oferecido é superior a 100% do CDI), elas podem não ter liquidez.
Nestas hipóteses, este investimento não serve como colchão de liquidez 😉
Enfim, não quero me delongar por aqui sobre o CDB.
Afinal, não faz muito tempo que eu escrevi um superartigo com a colaboração do meu colega Marcus Prado falando absolutamente tudo sobre como investir em CDB.
Clique na imagem abaixo para saber mais.
Na dúvida entre investir em CDB ou Tesouro Direto? Então também leia este excelente artigo!
3. Fundos de Investimento
Vou avisando logo de cara: não são todos os Fundos de Investimentos que possuem alta liquidez.
Essa modalidade funciona como um “condomínio” que reúne investimentos de diversos investidores (ou cotistas) para realizar compras de ativos.
Os ativos adquiridos dependem da política de investimentos e da classificação de cada fundo.
Cada um dos cotistas é dono de uma parte do patrimônio do fundo e é remunerado de acordo com a fração que possui.
Pode parecer uma complicação, mas na realidade não é…
Mas não se preocupe: eu ainda vou abordar esse assunto com mais profundidade aqui no Clube do Valor.
O importante agora é você saber que há fundos de investimentos que são bons para a formação do colchão de liquidez e outros que não são.
Fundos de investimento em ações, fundos de investimento multimercado e fundos imobiliários, por exemplo, não servem como ativos para o seu colchão de liquidez.
Geralmente, estes possuem prazo de resgate de 4 até 30 dias…
Há outros que podem levar de um a seis meses para fazer isso!
Isso significa que a liquidez não é tão alta assim nesses casos.
Além disso, a carteira de investimentos destes fundo possui ativos de renda variável, o que implica em retornos voláteis e imprevisíveis que, de tempos em tempos, podem chegar a ser bem negativo.
Resumindo, eles podem ser ótimos investimentos, mas não para o objetivo do colchão de liquidez.
Por outro lado, fundos de renda fixa mais conservadores, como fundos DI, em geral são bem líquidos.
Nestes tipos de fundos, o investidor pode receber a sua parte no mesmo dia em que fez o pedido do resgate.
Além disso, possuem uma carteira majoritariamente pós-fixada e, com isso, há a maior previsibilidade de retornos constantes e positivos.
Isso acontece porque estes fundos investem em títulos cuja rentabilidade está atrelada à Selic ou ao CDI.
Essa é uma boa alternativa para quem procura uma modalidade de alta liquidez capaz de render mais do que a Caderneta de Poupança.
Ou seja: uma boa opção para quem está formando o colchão de liquidez.
TENHO IDADE AVANÇADA. DEVO COMEÇAR A FORMAR MEU COLCHÃO DE LIQUIDEZ?
Sim, mesmo que você tenha 40, 50 ou 70 anos deve formar o seu colchão de liquidez antes de começar a investir.
Saber por quê?
Porque as situações emergenciais que mencionamos anteriormente não escolhem a idade da pessoa para acontecer.
Isso significa que você pode enfrentar diversos perrengues se não estiver preparado, podendo facilmente comprometer seus investimentos por falta de uma reserva financeira.
No final das contas, não há como argumentar: o colchão de liquidez vai permitir que você realize manobras mais confiantes em seus investimentos e não fique dominado pelo medo ou qualquer outro sentimento prejudicial para a sua saúde financeira.
Se você ainda é jovem, também deve garantir uma reserva para imprevistos.
Portanto, a regra é simples: se você vai investir, tenha um colchão de liquidez para te dar tranquilidade e garantir o seu sono.
Dessa forma, as “amarras psicológicas” (medo, preocupação, receio) que te prendem para fazer os melhores investimentos não estarão te pressionando.
CONCLUSÃO
Agora que você já sabe o que é e qual a importância do colchão de liquidez, saberá como construí-lo e garantir a tranquilidade necessária para fazer investimentos.
Lembrando que esse é um passo essencial para alcançar a sua independência financeira.
Sem isso, você estará desprotegido do acaso e emergências que podem surgir na sua caminhada a qualquer momento.
É claro que essa não é uma regra.
Nada impede que você obtenha ótimos rendimentos em seus investimentos sem uma reserva, mas o que vai garantir o seu sono quando a preocupação chegar com tudo no meio da noite?
É claro que eu não daria uma importância tão grande para algo que não considero verdadeiramente essencial para a construção de patrimônio.
É por isso que dediquei mais um artigo supercompleto para tratar desse tema.
Colchão de liquidez, reserva de segurança, fundo de emergência… chame como quiser!
Mas tenha o seu ao iniciar seus investimentos.
Você ainda vai me agradecer!
Grande abraço,
Ramiro.
Imagens: Shutterstock