Dividendos.
Você sabe o que isso significa?
É provável que você já tenha se deparado com essa palavra em algum lugar.
Afinal, estamos falando de um dos temas mais lembrados quando o assunto é “viver de renda”, um dos sonhos de quem busca a independência financeira.
Porém, dificilmente obtém-se um entendimento completo sobre dividendos com os conteúdos que estão disponíveis por aí.
Isso até agora.
Neste novo artigo do Clube do Valor, meu objetivo é trazer o conteúdo mais completo sobre o tema e apresentar como os investidores podem viver de dividendos.
Quero dissecar o assunto e trazer tudo o que você precisa saber para dominar muito bem esse tema, exatamente como eu já fiz com os tópicos Taxa Selic, CDI e IPCA.
Por isso, recomendo fortemente que você leia este artigo até o fim para dominar os seguintes pontos:

Se você for do tipo visual, pode aprender mais sobre o tema a partir do vídeo abaixo.
Ele traz vários dos conceitos que eu vou apresentar no texto a seguir.
Vale a pena assistir!

Além disso, caso você não entenda muito bem sobe a Bolsa de Valores, recomendo que você leia este artigo primeiro.
Ele pode servir como uma boa base introdutória sobre o assunto, caso você não o domine muito bem.
Dito tudo isso, vamos ao conteúdo!

DIVIDENDOS: O QUE É?

Para entender o que são os dividendos, imagine uma empresa qualquer.
Essa empresa, se estiver prosperando, passará a dar lucro para os seus donos.
O dividendo nada mais é do que o nome dado à distribuição de parte do lucro líquido de uma empresa.
Porém, isso não é válido para uma “empresa qualquer” – embora esse tenha sido o gancho inicial.
O termo “dividendos” está relacionado à Bolsa de Valores e as companhias que estão listadas no mercado de ações.
As empresas com papéis negociados na B3 (antiga BM&FBovespa) são obrigadas a distribuir pelo menos 25% dos lucros obtidos aos seus acionistas.
Essa determinação é antiga, dada pela Lei nº 6.404 de 15 de dezembro de 1976.
A primeira parte do artigo 202 deixa bem clara essa obrigação por parte das empresas para com os acionistas:

Art. 202. Os acionistas têm direito de receber como dividendo obrigatório, em cada exercício, a parcela dos lucros estabelecida no estatuto

O parágrafo segundo do mesmo artigo trata da porcentagem mínima a ser distribuída aos acionistas:

§ 2º Quando o estatuto for omisso e a assembleia-geral deliberar alterá-lo para introduzir norma sobre a matéria, o dividendo obrigatório não poderá ser inferior a 25% (vinte e cinco por cento) do lucro líquido

Portanto, é possível pensar no dividendo como uma parte de uma “grande pizza” que uma empresa listada na bolsa de valores produz.
Isso mesmo: uma pizza.
Dependendo de sua participação nessa empresa – ou seja, a quantidade de ações que você possui dela –, a sua fatia de pizza pode ser maior ou menor.
Além disso, a empresa pode optar por dividir toda a pizza entre seus acionistas ou escolher manter algumas “fatias” para “consumo próprio”.
Se ela decidir dividir toda a pizza – ou seja, distribuir todo o seu lucro líquido –, dizemos que a empresa paga 100% dos dividendos.
Porém, a empresa pode escolher dar somente um quarto da pizza (25%), ficando com o restante para reinvestir no próprio negócio.
Esse reinvestimento pode ser via…

  • Novos investimentos em maquinário;
  • Expansão geográfica da empresa;
  • Aquisição de concorrentes;

Enfim, tudo que possa fazer com que o lucro da empresa cresça no futuro.
Em nossa analogia, é como se a empresa realmente mantivesse para si própria 75% da pizza para “consumo próprio”, tentando aumentar o tamanho da pizza no futuro.
Vale ressaltar que ainda há outra forma de se distribuir os lucros da empresa, que é através dos Juros Sobre Capital Próprio (JSCP).

COMO OS DIVIDENDOS SÃO CALCULADOS

Como os dividendos representam uma porcentagem do lucro líquido da empresa, o que vai determinar a quantidade distribuída para os acionistas é o resultado financeiro dessa companhia.
Esse é, inclusive, um dos únicos fatores que pode fazer uma empresa não distribuir dividendos.
Se a empresa não tiver lucro líquido, os acionistas não terão o que receber.
Simples assim.
Porém, algumas empresas criam uma “reserva de lucro” para evitar situações indesejadas como essa.
Mas talvez você possa estar se perguntando:

“O que é lucro líquido? E onde eu encontro essa informação?”

O lucro líquido nada mais é do que o montante (em dinheiro) que sobra da operação de uma empresa após o pagamento de todas as despesas.
Funciona de forma bastante semelhante ao salário líquido, que é o valor que os trabalhadores recebem depois de deduzidos todos os descontos.
O lucro líquido de uma empresa listada na bolsa pode ser encontrado nos relatórios que ela obrigatoriamente deve divulgar.
Esses documentos podem ser encontrados no site da B3, utilizando a busca pelas empresas listadas.
Porém, também é possível utilizar uma ferramenta como a Fundamentus, que traz uma série de informações úteis sobre as companhias da bolsa.
Ali na parte de “Dados demonstrativos de resultados” encontramos o lucro líquido dos últimos 12 e 3 meses.
Dividendos: o que é?
As informações acima referem-se a Vale, uma das empresas listadas na B3.

OS INDICADORES PARA DIVIDENDOS

Investidores em ações, em via de regra, não possuem influência sobre o lucro futuro da empresa.
A frase de cima só não é válida quando o investidor possui o controle ou influência significativa sobre as decisões da empresa (em outras palavras: quando o investidor é um acionista relevante).
Ainda assim, qualquer investidor pode fazer uso de indicadores e índices das empresas para selecionar, por exemplo, boas pagadoras de dividendos.
E é justamente sobre esse ponto que quero tratar aqui.
Veremos, a seguir, quais indicadores devem ser analisados, preferencialmente, para entender se uma empresa pode ser classificada como uma “boa pagadora” de dividendos.

Dividend Yield

O Dividend Yield provavelmente é o indicador mais importante para os acionistas que se preocupam com dividendos.
Mas, já vou avisando: ele não é o único e tampouco deve ser o único a ser analisado.
Ele faz referência ao dividendo pago por ação dividido pelo preço da ação.
O resultado é uma porcentagem que indica o rendimento gerado para o dono da ação pelo pagamento de dividendos.
Trata-se basicamente do resultado da distribuição da empresa em relação ao preço de seu papel negociado.
Por exemplo:

  • Imagine que o preço da ação da empresa X esteja valendo R$ 50,00;
  • Se ela distribuir R$ 5,00 de dividendos em um determinado período, qual é o seu Dividend Yield?

Simples: basta apenas dividir o dividendo pago por ação pelo preço da ação.

  • R$ 5,00 / R$ 50,00 = 0,1 ou 10%

Porém, caso a empresa se valorize e o valor de sua ação aumente, o Dividend Yield também sofrerá alteração.
Digamos que o preço do papel aumente para R$ 100,00.
Teremos:

  • R$ 5,00 / R$ 100,00 = 0,05 ou 5%

Usando o mesmo exemplo acima, da Vale, constatamos que o seu Dividend Yield é de 4,3% no período avaliado.
Dividendos: o que é?
Vale ressaltar que um Dividend Yield alto nem sempre é um bom sinal.
É preciso avaliar os outros indicadores para entender o que classifica uma empresa como uma boa pagadora de dividendos.
Analisar o Dividend Yield de forma isolada é um erro comum e que pode trazer sérios prejuízos para a sua carteira de ativos.

Dividend Payout

O outro indicador que eu considero bastante importante é o Dividend Payout.
Esse número, definido pela própria empresa, revela qual a porcentagem do lucro será distribuída para seus acionistas através dos dividendos.
Lembrando que há pouco foi dito que as empresas são obrigadas a distribuir no mínimo 25% do lucro líquido obtido aos acionistas.
Esse é o Dividend Payout padrão, mas não precisa ser sempre assim.
A empresa pode optar por distribuir 100% dos lucros, tornando-se uma excelente candidata a uma boa empresa pagadora de dividendos.
Porém, empresas com um alto Dividend Payout possuem menos dinheiro para investimento.
Isso significa que, teoricamente, elas tendem a crescer menos ao longo dos anos.
Por outro lado, empresas com um Dividend Payout baixo podem ser consideradas como empresas “de crescimento”, já que os dividendos estão sendo novamente investidos na empresa.

Indicadores fundamentalistas

Além do Dividend Yield e do Dividend Payout, também é importante estar atento aos indicadores fundamentalistas das empresas.
Quem está buscando ações que são boas pagadoras de dividendos, também deve se preocupar com a saúde das empresas que estão por trás dos papéis.
Afinal, não adianta escolher a ação de uma empresa com risco de recuperação judicial (antiga falência), mesmo que ela pague altos dividendos.
Os seguintes indicadores fundamentalistas são os mais analisados:

P/L – Preço / Lucro

O indicador P/L, ou Preço/Lucro, é um dos mais conhecidos e utilizados no mercado de ações.
Ele nada mais é do que o preço atual da ação dividido pelo lucro por ação.
Esse indicador permite comparar o preço relativo das ações.
Ou seja: descobrir qual ação está “cara” e qual está “barata”.
Assim, quanto menor o P/L de uma empresa, mais barato estão os seus papéis.
Por outro lado, quanto maior o P/L, mais caro está a ação dessa empresa.

P/VPA – Preço/Valor Patrimonial por Ação

Outro indicador importante é o P/VPA, também chamado somente de VPA.
Essa relação nos dá o preço da ação comparado ao valor patrimonial proporcional a ela.
O número basicamente indica quanto os acionistas estão dispostos a pagar pelo patrimônio líquido da companhia.
Na teoria, funciona da seguinte forma:

  • P/VPA = 1 – significa que a ação está sendo negociada pelo equivalente a seu patrimônio líquido contábil
  • P/VPA < 1 – significa que a ação está sendo negociada a um preço inferior ao do seu patrimônio líquido contábil
  • P/VPA > 1 – significa que a ação está sendo negociada a um preço superior ao do seu patrimônio líquido contábil

Embora pareça o contrário, vale ressaltar que pagar um preço acima do patrimônio líquido para se tornar sócio de uma empresa nem sempre é um mal negócio.

EV/EBITDA

EV, ou enterprise value, refere-se ao valor de mercado da empresa + sua dívida líquida.
O valor de mercado da empresa é obtido pela cotação atual da ação multiplicado pelo número total de ações.
Já a dívida líquida, por sua vez, é a soma da dívida total (chamada de “dívida bruta”) menos o que a empresa possui em caixa e equivalentes de caixa. Indica, em outras palavras, qual seria o endividamento total da empresa se ela utilizasse todo dinheiro em caixa para quitar sua dívida.
Ebitda é a sigla em inglês para lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização.
Ele funciona bem como uma medida simplificada da geração de caixa da empresa.
Ao dividirmos o EV pelo Ebitda, obtemos uma relação similar ao PL, que também mostra o quão atraente/barata está a ação.
Quanto menor o EV/Ebitda, mais atraente a ação.

Outros indicadores

Além dos já citados, outros indicadores também podem ajudar a avaliar a saúde de uma empresa.
Esse é o caso dos indicadores financeiros, como:

  • Return on Equity
  • Return on Invested Capital
  • Dívida Líquida
  • Dívida Líquida sobre Patrimônio Líquido
  • Margem Bruta
  • Margem Operacional
  • Margem Líquida

Além destes, há outros pontos que podem ajudar na análise.
Conhecer os gestores da empresa e entender como eles atuam também contribui uma avaliação correta.
Portanto, todos esses tópicos podem ser usados para avaliar uma empresa de capital aberto e descobrir a sua saúde financeira.

COMO FUNCIONA O PAGAMENTO DOS DIVIDENDOS

Diferente do que muitos pensam, os dividendos não precisam ser pagos na forma de dinheiro.
Embora isso seja o mais comum, eles também podem ser distribuídos através de ações ou até mesmo através de propriedades, o que não é comum.

  • Dividendos em dinheiro: é o que normalmente acontece no mercado de ações, com o lucro líquido sendo distribuído a partir de um valor por ação (R$ 1,00 real por ação, por exemplo)
  • Dividendos em ações: pagamento de dividendos na forma de ações adicionais para o investidor, em que o número de ações recebidas depende do número de ações que o investidor já possui
  • Dividendo especial (ou “não recorrente”): em algumas situações, a empresa pode se ver em uma situação em que precisa fazer a distribuição de um dividendo especial, pagando-o de uma vez só; isso geralmente acontece em casos de aumento repentino de caixa resultante de uma venda ou ganhos extraordinários com processos judiciais

QUANDO OS DIVIDENDOS SÃO PAGOS

Além dessa divisão, é importante se atentar às datas de pagamento dos dividendos.
A distribuição dos lucros pode acontecer de forma mensal, trimestral, semestral ou até anual.
Quatro nomes são importantes para o investidor.
Porém, caso você esteja buscando a agenda de pagamento de dividendos de empresas específicas, recomendo que você visite o site Meus Dividendos.

Data de Declaração

É o dia em que o Conselho de Administração da empresa anuncia a declaração dos dividendos.
Essa declaração inclui o valor do dividendo, a data de registro e a data de pagamento.
Depois da data de declaração em que o valor do dividendo foi anunciado, a empresa tem a responsabilidade legal de pagá-lo.

Data de Registro

Na Data de Registro, a empresa vai registrar os acionistas elegíveis para o pagamento de dividendos.
O dia também é usado para a companhia estabelecer para quem irá enviar os relatórios financeiros, procurações e outras informações relevantes para o processo de pagamento de dividendos.

Data Ex-Dividendo (ou Ex-data)

A data ex nada mais é do que a data em que os novos investidores não tem mais direito ao dividendo declarado.
A partir dela, o preço da ação é ajustado, tirando o valor que será distribuído da sua base de cálculo.
Se um investidor compra uma ação depois da data de ex-dividendo (também chamado de ex-data), quem irá receber o pagamento é o vendedor da ação.
A ex-data geralmente é definida para 2 dias úteis antes da Data de Registro.
Porém, isso pode mudar para dividendos que não são pagos em dinheiro.
Para dividendos distribuídos no formato de ações, a ex-dividendo é o primeiro dia útil após o pagamento de dividendos.

Data de Pagamento

Como o nome sugere, a Data de Pagamento é o dia previsto para a distribuição dos dividendos.
Somente os acionistas que possuíam ações antes da ex-data têm direito a recebê-lo.

TRIBUTAÇÃO E JUROS SOBRE CAPITAL PRÓPRIO (JSCP)

Além da distribuição de dividendos, as empresas da bolsa podem remunerar os acionistas de outra forma.
Os Juros Sobre Capital Próprio (JSCP) funcionam de forma semelhante ao dividendo, mas possuem regras específicas de tributação.
Como esse pagamento é tratado como despesa no resultado da empresa, o investidor se vê obrigado a pagar o Imposto de Renda, que é retido na fonte.
A alíquota, nesse caso, é de 15%.
No caso dos dividendos, o investidor é isento.
Optar pela distribuição por JSCP geralmente beneficia a empresa, uma vez que o valor a ser pago entra na base de despesas e quem arca com os tributos é o investidor, à alíquota de 15%.
Para equilibrar um pouco a relação, algumas companhias pagam um Juros Sobre Capital Próprio maior do que pagaria de dividendos.

COMO ESCOLHER BOAS EMPRESAS PAGADORAS DE DIVIDENDOS

Infelizmente não existe fórmula mágica para montar uma carteira de dividendos.
Mas uma coisa é certa: é preciso saber escolher bem as empresas que vão compor essa carteira.
Para isso, analisar os indicadores listados acima é essencial.
Avaliar cada um deles em conjunto pode trazer a resposta que você procura.
Para ajudar aqueles que estão pensando em adotar essa estratégia, tenho duas dicas importantes.

#1 – Escolha empresas de setores perenes

Companhias de setores perenes geralmente possuem um alto Dividend Payout.
Isso acontece porque elas não precisam fazer grandes investimentos e aqueles que eram necessários já foram realizados no passado.
Assim, essas empresas se veem em uma posição em que podem distribuir grande parte (ou todo) do lucro líquido.
Exemplo de setores perenes são:

  • Energia elétrica
  • Saneamento
  • Telecomunicações
  • Serviços financeiros

#2 – Reinvista os dividendos

A segunda dica que eu tenho para quem está montando uma carteira de dividendos é reinvestir novamente todo o pagamento nesse formato.
Dessa forma, o investidor começa a aproveitar verdadeiramente o poder dos juros compostos, ou juros sobre juros.
Assim, além de novos aportes recorrentes que o investidor pode e deve fazer, também dá para contar com os dividendos na hora de acelerar a formação de uma carteira de ações.

CONCLUSÃO

Assim chegamos ao fim de mais um artigo do Clube do Valor.
Aqui você aprendeu tudo a respeito dos dividendos, um mecanismo muito bom para quem está planejando alcançar a sua independência financeira e viver de renda.
Mas essa não é a única estratégia de investimentos que existe.
Na verdade, há uma boa alternativa para quem está buscando uma estratégia orientada a objetivos financeiros.
Estou falando da Alocação de Ativos, a melhor estratégia de investimentos, na minha opinião.
E se você quiser se aprofundar ainda mais sobre o tema, recomendo que você baixe o meu ebook com os “3 Segredos Para o Investimento de Sucesso em Ações”.
É só preencher o formulário abaixo para receber o link de download:

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Um forte abraço,
Ramiro Gomes Ferreira.