Título de capitalização.
Você já ouviu falar sobre esse assunto?
Eu imagino que sim.
Afinal, o mercado brasileiro de titulos de capitalização é enorme.
Muito provavelmente seu gerente bancário já te apresentou um título de capitalização como uma “oportunidade” de você ganhar muito dinheiro em sorteios.
Ou, ainda, você conhece algum parente ou amigo que “investe” nessa modalidade.
Enfim…
Muito se fala a respeito do Título de Capitalização, mas poucos são aqueles que realmente sabem o que isso significa e entendem seu funcionamento.
Será que você é uma delas?
Se for, compartilhe aqui nos comentários a sua opinião sobre essa modalidade (antes de finalizar a leitura).
E se você não faz parte desse rol de pessoas, então eu sugiro que você preste muita atenção nesse novo artigo do Clube do Valor.
Mas antes, eu preciso confessar para você:
Por muito tempo, eu optei por não tratar desse tema para meus leitores.
Afinal, eu tenho uma opinião bem formada sobre esse “tipo de investimento” e acredito que ele nada agrega à sua busca pela liberdade financeira.
Entretanto, a demanda por esse assunto é bastante alta…
Assim como a quantidade de pessoas que “investem” em algum Título de Capitalização.
Por isso, eu resolvi desmistificar essa modalidade de aporte financeiro e apresentar as vantagens e desvantagens de colocar o seu dinheiro nele.
Se você conhece pessoas que confiam nos Títulos de Capitalização, você deveria indicar essa leitura para eles.
Você com certeza não vai se arrepender.
Então continue lendo para saber mais sobre pontos como…

O QUE É TÍTULO DE CAPITALIZAÇÃO?

Vamos direto ao ponto:
O Título de Capitalização não é um investimento.

O quê? Como assim?

Sim, acredite.
Diferente do que muitos acreditam, essa modalidade não pode ser considerada um investimento.
Na verdade, a sua classificação está mais para um seguro do qualquer outra coisa.
Uma prova disso é o fato de o mercado de capitalização ser controlado e fiscalizado pela SUSEP, ou Superintendência de Seguros Privados.
Eu imagino que, ao ler o que eu acabei de escrever, talvez agora você esteja se perguntando:

“Se não é um investimento, o que é?”

Em palavras simples, poderíamos dizer que o Título de Capitalização é uma forma de economia programada com um prazo definido.
Isso porque seu funcionamento depende de pagamentos que você faz para o “emissor” do título.
Esse pagamento pode acontecer de forma única, por meio de parcelas mensais (o mais comum) ou periódicas.
Ao final do prazo, você poderá resgatar os pagamentos realizados.
Esse resgate pode envolver a totalidade do valor pago, parte do valor pago ou até mesmo o valor pago acrescido de uma mísera taxa de juros (muito inferior às taxas que você conseguiria investindo seu dinheiro).

POR QUE ESCOLHER UM TÍTULO DE CAPITALIZAÇÃO PARA “INVESTIR”?

Se muitas vezes você não conseguirá resgatar a totalidade do valor pago e, em outras, receberá o valor pago acrescido de uma pequena taxa de juros, por que optar por um título de capitalização?
Aqui entra o maior atrativo para aqueles que optam por essa modalidade de poupança: os sorteios.
Ao pagar um título de capitalização, você passa a concorrer a um – ou alguns – sorteios.
O valor dos prêmios distribuídos nesses sorteios pode variar bastante.
Alguns contratos preveem o pagamento de quantias pequenas.
Outros, entretanto, podem sortear valores que chegam a milhares ou até milhões de reais.
Tudo isso, é claro, está embutido dentro do seu pagamento.

QUEM EMITE UM TÍTULO DE CAPITALIZAÇÃO?

Mas afinal, quem são os responsáveis por emitir os Títulos de Capitalização?
Geralmente estamos falando de grandes instituições financeiras, como os bancos.
Se você já foi abordado com alguma oferta de capitalização, é muito provável que tenha ouvido algum dos seguintes nomes:

  • Banco do Brasil: Ourocap Único 36, Ourocap Mensal 36, Ourocap Mensal 48, Ourocap Mensal 60, Ourocap Flex e Ourocap Multi Sorte;
  • Bradesco: Pé Quente Max Prêmios Bradesco Capitalização (Pagamento Mensal ou Único), Pé Quente Bradesco SOS Mata Atlântica, Pé Quente Bradesco Cem, Pé Quente Bradesco Mil, Pé Quente Bradesco Nikkei, Pé Quente Bradesco Empresarial, Pé Quente Bradesco SOS Mata Atlântica Empresarial e Pé Quente;
  • Caixa Econômica Federal: Cap Torcedor, Ideal Cap, Caixacap Sucesso, SuperXcap e Caixa Cap Aluguel;
  • Itaú: PIC (R$ 20), PIC (R$ 30), PIC (R$ 70), PIC (R$ 100), SUPER PIC 500 (R$ 500) e Super PIC (R$ 1.000);
  • Santander: CapSorte do Milhão, CapSorte Total e CapSorte Universitário.

Esses são os principais Títulos de Capitalização oferecidos pelos maiores bancos brasileiros na data em que eu escrevo esse artigo.
É claro que pode haver algumas variações.
A Caixa, por exemplo, oferece alguns títulos focados em aposentados, servidores públicos e empresários.
Porém, o funcionamento do título é basicamente o mesmo para todos os casos.
O que varia é:

  • A forma de pagamento: (única, mensal ou periódica);
  • O resgate (total ou parcial);
  • O tamanho da série;
  • A carência;
  • E alguns outros fatores.

Em resumo, temos a seguinte definição:

O Título de Capitalização é uma forma de guardar dinheiro e, ao mesmo tempo, participar de sorteios.

Essa é uma boa alternativa para você que está buscando sua independência financeira?
Eu tenho uma opinião formada sobre o assunto e até já falei sobre ela no início desse artigo.
Mas antes de desenvolver melhor, eu preciso te apresentar, de forma desenviesada, as principais vantagens e desvantagens do Título de Capitalização.
Assim, consigo te ajudar para que você tire suas próprias conclusões.
Vamos lá!

VANTAGENS DOS TÍTULOS DE CAPITALIZAÇÃO

Vamos começar com a vantagem mais “divulgada” pelos principais emissores de títulos de capitalização:

#1 – Forma forçada de poupar

Agora que já entendemos o que é um Título de Capitalização, é fácil concluir que essa é uma forma forçada de poupar.
E por que isso é uma vantagem?
Simples: porque há pessoas que simplesmente não possuem disciplina para guardar dinheiro.
Por meio de um contrato de capitalização, o indivíduo fica “obrigado” a pagar o título sob pena de multa e atualização monetária em caso de atrasos.
Além disso, o contratante perde o direito de participar dos sorteios.
E esse acaba sendo o motivo mais forte que força muitas pessoas a se manterem fiéis ao Título de Capitalização.
Para quem tem controle zero sobre os gastos, essa pode até ser uma opção a ser considerada.
Entretanto, eu nunca recomendo esse caminho.
Afinal, há outras formas de se forçar a fazer aportes financeiros que podem ser considerados investimentos.
O fato de você desenvolver um planejamento financeiro formal, por exemplo, é uma delas.
À medida que se estuda e se conhece outros produtos financeiros, mais opções (muito mais interessantes) começam a surgir.

#2 – Comodidade

Quem vai com frequência ao banco para conversar com o gerente sabe como é “fácil” dizer um “sim” para uma oferta que parece tentadora.
O profissional do banco, alegando que precisa de uma ajudinha para fechar a meta do mês, acaba floreando o Título de Capitalização.
Como resultado, os aportes para essa modalidade acabaram se transformando em algo extremamente “indolor” para o consumidor.
Basta apenas dizer um “sim” ou um “ok”.
No final das contas, o cliente não faz nada.
Só precisa acompanhar os aportes financeiros e torcer para ser sorteado.
Além dessa comodidade, outro aspecto que acaba reforçando essa vantagem são exatamente os valores dos aportes (no caso dos pagamentos mensais).
Em alguns contratos, os preços começam em apenas R$ 30.
Para muitos, esse é um valor bem baixo a ser pago para concorrer a 1.000 vezes esse mesmo valor.
O raciocínio é simples:

“Eu pago R$ 30 por mês e concorro a R$ 300 mil. Existe coisa melhor?”

Realmente não há como negar que as instituições financeiras facilitam o acesso ao Título de Capitalização e o transformam em uma alternativa aparentemente interessante.
Afinal, eles são “mestre” nisso.
O importante aqui é que você não confunda a “comodidade”, que de fato não deixa de ser uma vantagem, com “qualidade”.
Afinal, como eu já comentei, os títulos de capitalização não estão nem perto de serem considerados como boas opções de investimento.
Portanto, tenha muito cuidado com a comodidade.

#3 – Sorteios

É aqui que está a “cereja do bolo” para quem compra um Título de Capitalização.
É nesse ponto que os bancos e outras instituições financeiras acabam ganhando os consumidores.
Afinal, é bem fácil ceder à tentação de sonhar com a possibilidade de ganhar uma grande bolada.
Ainda mais se você é brasileiro e vive a nossa “cultura da loteria”.
Às vezes os prêmios realmente são bem convidativos.
Quer ver só?
Vamos usar o Banco do Brasil como exemplo.
A modalidade Ourocap Mensal 36 pede aportes que variam de R$ 200 a R$ 1.000 mensais durante 36 meses para concorrer a:

  • Prêmios mensais de R$ 10 mil;
  • Prêmios mensais especiais de até R$ 100 mil;
  • Prêmios semestrais de até R$ 10 milhões.

Parece tentador, não é mesmo?
São mais de 36 vezes a chance de ganhar uma bolada gigantesca.
Só o prêmio mais baixo (R$ 10 mil) seria o suficiente para superar o montante que você estaria pagamento pelo título, que soma o valor de R$ 7.200,00.
Com base nessa perspectiva, é bem fácil entender porque tantos clientes acabam comprando Títulos de Capitalização.
Ser sorteado transformaria o título em uma verdadeira mina de ouro.
Aqui, um parênteses muito importante precisa ser feito: não existe almoço grátis.
Os prêmios distribuídos nos sorteios já estão “embutidos” na sua mensalidade do título.
Ou seja: a probabilidade de você realmente mudar de vida com um desses sorteios é realmente baixa e a relação entre “custo x benefício” de um título de capitalização jamais é positiva.

DESVANTAGENS DOS TÍTULOS DE CAPITALIZAÇÃO

Eu juro que me esforcei para listar algumas potenciais “vantagens” dessa modalidade.
Tive que pensar sob a ótica do comprador e, também, sob a ótica do vendedor de títulos de capitalização.
A grande verdade, aqui, é que as desvantagens são muito mais importantes do que as aparentes vantagens.
Portanto, sugiro especial atenção nos tópicos seguintes deste artigo.
Vamos lá!

#1 – Baixa rentabilidade

Para atrair mais clientes, as empresas oferecem devolução de 100% do valor pago durante a vigência do Título de Capitalização.
Essa parece uma coisa boa, não é?
Mas não se engane!
Se você está cedendo o seu dinheiro, o mínimo esperado é que ele seja de alguma forma corrigido na hora da devolução.
Isso é o que boa parte das instituições financeiras fazem.
Porém, a rentabilidade é tão baixa que não chega a superar nem mesmo a inflação, o que significa que o dinheiro desvalorizou.
Ou seja: houve perda financeira por causa da desvalorização.
A remuneração é baixa porque somente uma parte do valor pago é corrigido pelos juros.
Essa quantidade é chamada de cota de capitalização.
Dependendo do tipo de pagamento (único, mensal ou periódico), esse valor pode variar de 10% a 70%.
Isso significa que, na pior das hipóteses, somente 10% do valor pago estaria sendo corrigido pelos juros da Taxa Referencial (TR).
Dessa forma, podemos dizer que o Título de Capitalização é uma modalidade pior que a Caderneta de Poupança, que também considera a TR para compor seu rendimento.
Lembrando apenas que a capitalização não pode ser considerada um tipo de investimento, diferente do que acontece com a tradicional Poupança, embora ela também possa apresentar uma remuneração bem baixa.
Portanto, tenha bem isso em mente:
CAPITALIZAÇÃO NÃO É INVESTIMENTO.
Na melhor das hipóteses, é uma forma de poupar dinheiro com um bônus de eventualmente (e com muita sorte) você ser premiado com um sorteio.
Feita essa consideração, vamos ao segundo ponto:

#2 – Baixa liquidez

Nem todos os Títulos de Capitalização permitem um resgate antecipado.
Alguns contratos dispõem do chamado prazo de carência, que é o tempo mínimo por meio do qual o dinheiro precisa ficar guardado.
Somente depois desse período você poderá resgatar o valor pago.
Na hipótese de ser permitido o resgate antecipado (total ou parcial), o cliente pode estar sujeito ao pagamento de multa para a emissora do título.
O dinheiro fica literalmente “preso” ao banco.
Caso o consumidor decida não pagar o Título de Capitalização, ele pode ter o seu título suspenso, o que tira o direito de participar dos sorteios.
Se o atraso no pagamento superar quatro meses, o título é cancelado.
Nesse caso, parte do valor é devolvido, funcionando como uma espécie de resgate antecipado.

#3 – Não é investimento

Caso você ainda não tenha entendido, eu volto a reforçar: o Título de Capitalização não é um investimento.
Essa modalidade funciona mais como um seguro com direito à premiação, que acaba sendo o seu maior apelo.
Além de não garantir o retorno do valor aplicado ao longo do período de vigência, as chances de ser sorteado são bem remotas.
Isso sem falar sobre o imposto de renda sobre os prêmios, que pode chegar a até 30%.
Apesar disso, várias instituições acabam vendendo a capitalização como uma forma de fazer o dinheiro crescer.
Algumas até a chamam de uma “boa opção de investimento” para quem quer guardar dinheiro e concorrer a prêmios.
Pura falácia, ao menos no que se refere a parte de ser uma opção de investimento.
Pelo menos algumas mudanças recentes na regulamentação ajudam a aumentar a transparência nas condições de comercialização dos Títulos de Capitalização.
Porém, muitos ainda acabam sendo “enganados” por gerentes de bancos que usam os títulos como moeda de troca para oferecer outros benefícios, como uma taxa mais baixa na contratação de crédito.
Por isso é sempre bom anotar muito bem todos os números passados para poder se defender posteriormente.
Há casos em que essa imposição acontece de forma tão veemente que pode acabar sendo caracterizada de forma ilegal.
Portanto, não caia na pegadinha de quem diz que o Título de Capitalização é um investimento.

AFINAL, PARA QUEM É O TÍTULO DE CAPITALIZAÇÃO?

Considerando suas características, podemos dizer que o Título de Capitalização é destinado a uma parcela bem pequena e específica da população: os gerentes bancários.
Eu realmente não recomendo a nenhum de meus clientes e leitores a compra de um título de capitalização.
Mesmo se você é totalmente descontrolado sobre suas finanças e não consegue poupar, eu ainda assim não recomendo essa opção.
Talvez, os títulos de capitalização façam sentido apenas para jogadores compulsivos de loteria.
Afinal, aqui pelo menos você pode conseguir resgatar o valor nominal do dinheiro gasto.
Como os títulos de capitalização se prestam, teoricamente, a disciplinar as pessoas a guardarem dinheiro, eles acabam sendo a primeira aquisição de muita gente, que do contrário iria gastar esse dinheiro e não o guardar.
Portanto, poderíamos dizer, também, que ele pode servir como uma “porta de entrada” para uma vida financeira mais regrada.

CONCLUSÃO

É normal encontrarmos pessoas que defendem com unhas e dentes o discurso de que o Título de Capitalização não vale a pena.
Embora eu também concorde com essa afirmação, é preciso ter respaldo para fazer uma alegação dessas.
É isso que eu espero ter feito neste artigo.
Por meio desta leitura, quero que você entenda o que representa essa modalidade e porque ela não é considerada um investimento.
Se você está realmente comprometido a conquistar a sua independência financeira, eu sugiro que você realmente invista o seu dinheiro.
Para tanto, recomendo a leitura dos seguintes artigos:

Para finalizar, trago aqui um vídeo que achei particularmente adequado para este artigo.
Trata-se de um vídeo do Porta dos Fundos, conhecido canal humorístico do YouTube que faz uma sátira a vários produtos financeiros.

Embora haja um exagero por parte do grupo com relação a alguns produtos financeiros, é verdade que eles podem não ser nem um pouco vantajosos para os clientes.
Portanto, sempre procure entender e estudar muito bem cada uma de suas aplicações.
Afinal, você não quer ser deixado para trás, não é mesmo?
Um forte abraço,
Ramiro Gomes Ferreira.