Quando você pensa na sua vida financeira e no seu dinheiro, uma das primeiras palavras que vem à sua cabeça é “caos”? Você se sente preocupado e sobrecarregado só em pensar em como sair das dívidas e juntar mais dinheiro?

Se sim, você não está sozinho – menos de um terço (27%) dos brasileiros conseguiram economizar algum valor em 2021 (fonte: Raio X do Investidor Brasileiro Anbima – 2022).

Apresento esse dado, contudo, não para fazer com que você se sinta melhor. Quero mostrar como o problema é grave: mais de dois terços da população tem uma vida financeira caótica. Não conseguem poupar nem um real por mês.

Você deve imaginar – e talvez saiba por experiência própria – como isso é ruim. Sentimentos como estresse, ansiedade e desmotivação são comuns pela falta de cuidado com as finanças. 

Para que você tenha uma ideia, 59% das pessoas apontam a falta de dinheiro como principal motivo de estresse no trabalho (fonte: Employee Financial Wellness Survey, PwC).

Ou, ainda, um a cada três funcionários perdem mais de 3h de trabalho por semana para lidar com seus problemas financeiros. É preocupante, não é mesmo?

E se eu te dissesse que há uma maneira de sair das dívidas e organizar suas finanças? Um método usado por 81% dos brasileiros que conseguiram economizar em 2021 (fonte: Raio X do Investidor Brasileiro Anbima – 2022)?

Parece bom demais para ser verdade, eu sei, mas continue lendo este artigo e eu vou te ensinar o passo-a-passo e te dar as ferramentas para aplicar este método. Vamos lá:

O que trava a vida financeira?

Minha vida financeira está um caos

Antes de falar de método e ferramentas, contudo, preciso falar um pouco sobre comportamento. Saber organizar suas finanças é saber se comportar. Pode parecer básico, papo de coach e até meio juvenil, mas te garanto: a sua vida financeira é consequência dos seus comportamentos.

Após alguns anos falando com milhares de pessoas aqui no Clube do Valor, isso é bem claro para mim. Para melhorar sua vida financeira, você precisa estar disposto a rever e ajustar seus comportamentos.

De maneira verdadeira, sem autossabotagem (não faz sentido roubar de você mesmo!). Tampouco estou dizendo que você precisa mudar completamente. Calma, você não precisa “virar outra pessoa”.

Um pouco de consciência sobre os seus comportamentos indesejados, priorização e clareza de onde quer chegar já serão suficientes.

Para te ajudar, vou falar um pouco sobre os principais comportamentos que levam as pessoas ao caos financeiro. Veja o que faz sentido para você, estabeleça uma lista de prioridades e comece a mudança de comportamentos hoje mesmo.

Preguiça

Isso mesmo. Preguiça. Bem autoexplicativo, não é mesmo?

Quer um exemplo? Se você está aqui comigo, não está sendo preguiçoso. Imagine quantas pessoas não querem nem mesmo ler um artigo como esse para melhorar sua vida financeira! Então, sim – a preguiça é um dos maiores causadores de caos financeiro.

Como você vai aprender aqui, organizar sua vida financeira exige algum esforço, dedicação e consistência. Não para sempre, mas no começo – nos primeiros meses – sim. 

Não vou mentir para você e dizer que vai ser fácil e divertido: o processo para arrumar sua vida financeira exige algumas horas investidas e não é o mais legal do mundo. O resultado desse processo, sim, é incrível e prazeroso! E as pessoas preguiçosas querem apenas o resultado…não estão dispostas a colocar esforço antes.

Então, minha dica bem objetiva é: não seja preguiçoso! Mergulhe de cabeça e dê o seu melhor. Seja nessa missão de sair das dívidas, seja nos estudos, no seu trabalho, nos relacionamentos, etc. Acredite: tudo isso vai ajudar na sua vida financeira.

Comprar por impulso

As famosas compras por impulso… aposto que você consegue lembrar qual foi a última compra que fez por impulso (lembrou, não é mesmo?!).

Aquela compra que não estava planejada, de algo que você não precisava e depois se arrependeu de ter comprado. Talvez algo que você viu em um anúncio ou publicação enquanto navegava na sua rede social preferida.

Aqui, também não há mistério: você precisa se controlar! As etapas de lista de pendências e controle de ganhos e gastos, que vou apresentar mais à frente, vão te ajudar a ter clareza sobre o que são compras por impulso e vão ligar um “sinal de alerta”, uma espécie de autodefesa, quando você estiver prestes a fazer uma compra dessas.

Aquela compra vai parecer estranha, fora do seu orçamento. Caberá a você a decisão consciente de não realizar essa compra.

Se deixar levar por promoções

As promoções são muito parecidas com as compras por impulso. Também aposto que você já comprou algo na promoção e depois viu que não precisava, ou que não era exatamente o que você precisava (vou ficar rico com essas apostas!).

Roupas são um bom exemplo: conheço muitas pessoas que já compraram roupas na promoção e depois nunca usaram. Você precisa eliminar as compras por impulso com promoção. Viu algo em promoção e ficou com vontade de comprar?

Pergunte-se: realmente preciso disso? Vou usar? Se sim, quantas vezes por semana? Eu compraria se não estivesse em promoção?

Também faça uma pesquisa de preços. Confira se a promoção é boa ou se é a famosa promoção “a metade do dobro” do preço original.

São dois passos simples, mas muitas vezes ignorados quando vemos algo com desconto. Os descontos são usados para mexer com o psicológico dos compradores. Então, em vez de cair nessa armadilha, seja racional e assuma o controle das suas decisões.

Ansiedade

A preocupação excessiva é outro comportamento que atrapalha a vida financeira. Veja bem, você deve dar atenção às suas finanças (por isso, escrevi este artigo), contudo, isso é um meio para uma vida melhor e não um fim em si só. E de nada adianta ficar excessivamente preocupado ou estressado: isso não vai resolver nada.

O que você precisa é ter método, disciplina e consistência. Colocar em prática todos os dias aquilo que definiu em seu plano para sair das dívidas e prosperar.

Eu entendo que isso pode soar um pouco duro. Mas é a realidade. A ansiedade em resolver logo a sua vida financeira pode te levar a um caminho de sofrimento e a tomar decisões precipitadas, que podem piorar a sua situação logo ali na frente (exemplo: tomar um empréstimo sem a devida avaliação prévia).

Por isso, procure deixar a preocupação de lado e foque logo em definir um plano e executá-lo da melhor forma que você consegue. Ao longo do caminho, você vai avaliando os resultados e ajustando o plano… tente ser o mais racional possível.

Usar cartão de crédito sem necessidade

tranquilidade financeira

Aqui está uma combinação perigosa para a tranquilidade financeira: o cartão de crédito nas mãos de uma pessoa sem organização financeira.

É como um avião Boeing: nas mãos de um piloto qualificado, treinado, é fantástico e ajuda a vida de muitas pessoas. Agora, experimente colocar esse avião nas mãos de um amador, alguém sem instrução (ou melhor, não faça isso). Com o cartão de crédito, é a mesma coisa.

PS: depois de escrever isso, estou achando que deveríamos ter a “cartão de crédito-escola” para aprender a “pilotar” o cartão e tirar a nossa licença. 

O cartão de crédito pode ser muito útil para organizar nossas despesas mensais e aproveitar benefícios de parcelamentos, pontos, milhas, centralização de pagamento e outras vantagens. O problema é que muitas pessoas enxergam o cartão de crédito como uma extensão do seu salário: gastam o que recebem no mês e mais o limite do cartão. 

Simplesmente vão usando o cartão até estourar o limite. Não tem como essa conta fechar…

Aprenda a se controlar e a considerar o cartão de crédito como parte de suas despesas mensais. Você precisa saber quanto pode gastar mensalmente no cartão. Precisa acompanhar as próximas faturas e parcelamentos para não ter surpresas.

Pode parecer simples, mas vamos lá a um exemplo: digamos que você definiu, em seu orçamento, que pode gastar R$ 500 por mês no cartão. Em um dia, fez uma compra de R$ 600 parcelados em três vezes. Você precisa saber que no mês atual e nos próximos dois meses, já terá comprometido R$ 200 do cartão. Você só poderá gastar, portanto, mais R$ 300 por mês. Pode parecer muito simples, mas já vi muita gente entrar no caos financeiro por não ter este simples controle.

Não acompanhar os gastos

O uso indevido do cartão me lembrou de outro comportamento perigoso: não acompanhar os gastos. Não acompanhar seus gastos é como decolar um avião sem conferir combustível, sem fazer manutenção, sem conferir a tripulação… é jogar com a sorte (normalmente, resulta em azar).

Você precisa acompanhar no que está gastando seu dinheiro. Não se preocupe! Não estou falando que precisa colocar tudo na planilha, cada centavo, cada cafezinho, até o final da sua vida – sejamos francos, ninguém faz isso, nem mesmo os Planejadores Financeiros (me incluo aí).

O que quero dizer é que você precisa ter uma boa ideia de como gasta o seu dinheiro a cada mês. Quais são as principais despesas, em que datas você precisa pagá-las, quanto gasta na média em supermercado, luz, combustível, etc.

Logo vou te mostrar como fazer isso, na parte do método para organizar suas finanças. Você verá que é uma evolução:

Nos primeiros meses, vai precisar anotar todos os seus gastos, olhar tudo no detalhe e comparar com o seu orçamento (lembre: não seja preguiçoso!).

Depois, pouco a pouco, vai se sentir mais organizado e já não terá mais a necessidade de fazer isso todos os meses. Talvez a cada 3, 4, 6 ou até 12 meses será suficiente para você. Eu, por exemplo, reviso minhas despesas mensais a cada 6 meses e uso menos de uma hora para fazer isso. Você vai encontrar a frequência ideal para você.

Não priorizar as contas

Se você não priorizar o pagamento das contas mais importantes do mês e simplesmente sair pagando tudo, sem ordem, correrá o risco de ficar sem dinheiro para as contas essenciais. Nosso objetivo é que, depois de organizar suas finanças, você consiga pagar todas as contas. Mas, até chegar lá, você precisa priorizar.

Categorize as suas contas em 3 categorias:

  • Essenciais (aquilo que você não sobrevive sem: aluguel, alimentação, etc.);
  • Prioridade 1;
  • Prioridade 2 (aqui é muito pessoal, não posso escolher por você).

Reserve dinheiro para as essenciais. Essas você não pode deixar de pagar!

Aqui, é provável que você tenha que fazer escolhas: pagar a academia ou fazer happy hour uma vez por semana?

Caberá a você decidir… lembra que sua vida financeira é consequência dos seus comportamentos?

Não ter objetivos financeiros

Para quem não sabe para onde vai… bom, você já conhece essa frase, certo?

Se não controlar os gastos é como decolar um avião sem combustível, não ter objetivos financeiros é como decolar um avião sem ter destino e rota definidos. Como avaliar se a viagem foi bem-sucedida? Afinal, qualquer destino servirá…

Você precisa definir objetivos de vida e, consequentemente, financeiros. Exemplos de objetivos mais comuns: sair da casa dos pais, comprar um imóvel, fazer uma viagem, ter filhos, etc.

Você é quem precisa definir os seus objetivos de vida. E, para cada objetivo, você precisa definir qual é o objetivo financeiro que o viabiliza (lembra que o dinheiro é um meio e não um fim?).

Por exemplo: você quer comprar um imóvel. Que tipo de imóvel? Em que localização? Quando? Qual é o valor do imóvel? Qual é o custo mensal de manutenção? Você precisa pensar em pontos como esses.

Não ter um plano claro

plano de gastos

Só então, será possível montar um plano: comparando o que você quer com o que você pode (olha a importância de conhecer suas receitas e gastos!), vai definir qual é a faixa de valor que pode pagar; daqui a quanto tempo consegue realizar o objetivo; quanto vai poupar por mês…e por aí vai.

Não é complexo. Na verdade, é bem simples. Mas você precisa sentar, pensar e planejar. Escreva os planos no papel, no celular, em uma planilha, a forma tanto faz. Use o que funciona para você.

E revisite periodicamente esses planos. Por exemplo, a cada 3 meses, sente, revise-os e, se necessário, ajuste-os.

Inclusive, é bem provável que você tenha que ajustar os planos algumas vezes ao longo do caminho. Quanto maior o horizonte de tempo do plano, mais provável é que isso aconteça. Afinal, é muito difícil planejar com precisão 5 ou 10 anos para frente.

E está tudo bem em revisar os planos! Um plano é feito para ajudar, não para ser algo imutável.

Para te ajudar, deixo aqui uma planilha que eu uso e indico para meus clientes:

Deixar dinheiro parado

Aqui está um comportamento que bagunça a vida financeira de muita gente que já consegue poupar dinheiro. Não faz sentido deixar dinheiro parado. Se investir te faz ganhar dinheiro enquanto dorme, deixar o dinheiro parado te faz perder dinheiro enquanto dorme e enquanto está acordado… literalmente. A inflação vai simplesmente diminuir seu poder de compra.

Se você já tem algum dinheiro guardado ou está começando a poupar, precisa começar a investir. Simples assim. Existem opções bem seguras e simples para quem está começando, como o Tesouro Direto. Não vou falar sobre isso aqui porque renderia vários outros artigos (temos vários sobre investimentos e sobre como começar a investir do zero aqui no blog, depois você confere).

Só me prometa que você vai estudar um pouquinho antes de investir e não vai colocar o dinheiro na Poupança. Combinado?

Conclusão

Pronto. Agora que falei sobre os principais comportamentos perigosos para a sua vida financeira, você já deve ter uma boa ideia de quais são aqueles que precisam mudar. Lembre-se: faça uma lista de prioridades e comece a mudança hoje!

Você deve ter percebido que vários desses comportamentos são de consenso comum. Você não precisa ser um especialista em finanças para saber disso (as universidades, MBAs e certificações que me desculpem). Mas então…

Por que tem pessoas que não prosperam na vida financeira?

Porque o mais difícil não é saber o que fazer. O mais difícil é o passo seguinte: agir. É ter consistência e disciplina para seguir o plano, dia-a-dia, semana após semana, mês após mês.

Organizar a sua vida financeira é como correr uma maratona, e não uma corrida de 100 metros. E é aí que muita gente se perde… a maioria até começa bem a primeira semana e o primeiro mês. Consegue manter a disciplina e cumprir o plano. Mas depois, vai perdendo o foco (lembra da preguiça?).

Não adianta reclamar… eu alertei antes: o processo de organização financeira não é divertido. O seu resultado, sim! Então, foque no resultado e esteja disposto a colocar algum esforço para chegar lá.

Com os comportamentos e a mentalidade certos, agora você está pronto para colocar o método em prática.

Como sair do caos financeiro?

Como sair do caos financeiro?

Vamos lá, vamos entrar no método. Pela minha experiência, as pessoas organizadas financeiramente e que conseguem poupar algum dinheiro seguem ou já seguiram uma sequência de passos parecidos com estes. Não há muito espaço para algo diferente disso, não precisamos “reinventar a roda”.

Ao seguir esses passos, você facilmente vai notar a melhoria na sua vida financeira. Vai sentir que está no controle do seu próprio avião e não mais no banco do passageiro.

1. Faça uma lista de pendências

Comece listando aquelas pendências financeiras que você já sabe que tem. Um cartão de crédito que não usa e quer cancelar, algo que quer vender e ainda não tomou a iniciativa, uma conta de banco que está com tarifas altas… estou falando dessas coisas simples, que sabemos que temos que resolver e acabamos postergando.

Coloque tudo numa lista, defina a ordem de prioridade e monte um plano de ação: o que você vai fazer e quando (um prazo). E aí você executa o plano. É isso.

Esse primeiro passo vai contribuir com duas coisas:

1. Te dar uma sensação positiva: você vai sentir que já está evoluindo na organização financeira. Já sentirá o gosto de uma pequena recompensa pelo seu esforço.

2. Liberar espaço mental: todas as pequenas pendências e problemas ocupam nosso espaço mental. Nos geram preocupação e estresse. É como se você liberasse essas “gavetas”: pronto, agora sobra mais espaço para lidar com as coisas mais importantes.

Vamos em frente:

2. Organize suas dívidas

É a hora de encarar de frente o assunto tão temido: as dívidas. Se você tem dívidas, não adianta esconder debaixo do tapete. Ao menos, não de você mesmo.

E aqui vai um alerta: situações drásticas, muitas vezes, exigem medidas drásticas. Então, esteja disposto a fazer sacrifícios para eliminar as suas dívidas.

Vamos ser práticos, nós vamos:

  1. Mapear as dívidas; e
  2. Montar um plano para eliminá-las (ou melhor, pagá-las).

Aqui vai o passo-a-passo que você deve seguir na etapa 1 – Mapear as dívidas:

  1. Faça uma lista de todas as dívidas: liste o nome da empresa ou pessoa a quem você deve, quanto deve (valor total e prestações mensais) e qual é o prazo de pagamento. Se não tiver todas as informações disponíveis, dedique algum tempo aqui para buscá-las: é fundamental ter clareza sobre a sua situação atual.
  2. Consolide esses dados: consolide essa lista em um local único. Esse será o seu guia para eliminar as dívidas. Você pode fazer como quiser.
  3. Entenda a gravidade da situação: sua dívida está controlada ou descontrolada? Não existe uma regra única para determinar isso, mas minha experiência me mostra que se você tem dívidas que comprometem até 30% da sua receita mensal, está numa situação controlada. Do contrário, sua situação já é descontrolada e mais crítica (se é o seu caso, fique calmo: vamos deixar ela mais controlada!).

Agora, você já sabe como é e qual é o tamanho do “monstro” contra o qual está brigando e qual é a sua situação (dívida controlada ou descontrolada).

3. Eliminar as dívidas

  • Vamos lá, se você está controlado:

A. Renegocie as dívidas

Procure os seus credores e busque agendar reuniões/ encontros para uma renegociação das dívidas. Normalmente, é possível diminuir o tamanho da dívida e a taxa de juros ao fazer isso.

Pense bem, você está querendo pagar e o seu credor quer receber. É normal que as instituições façam renegociação das dívidas nesses casos.

Uma dica: nessas reuniões, apresente o mapeamento de dívidas que você acabou de fazer, como orientei no passo acima. Isso vai mostrar ao seu credor que você está organizado e quer resolver a situação. Isso já vai te dar alguns pontos positivos extras na negociação!

Além disso, um alerta: a pessoa com quem você vai negociar as suas dívidas não é sua amiga. Ela representa a instituição a qual você deve e, portanto, vai sempre procurar o acordo que seja mais favorável a ela.

Seja cético com as propostas e informações apresentadas. Você deve entender e validar os números e os termos do acordo apresentado a você.

Caso não consiga fazer isso por conta própria na reunião, não tenha pressa: peça um tempo para analisar a proposta e a leve para conversar com alguém que você confia e que poderá te ajudar. A pressa em resolver logo a sua situação pode te colocar em maus acordos.

PS: também não estou falando mal desses profissionais, OK? Como em qualquer profissão, há pessoas muito boas e outras nem tanto. Apenas seja cético e revise tudo.

B. Troque as dívidas por outras mais baratas

renegociação de dívidas

Se não conseguir renegociar alguma dívida, você pode procurar trocá-la por outra mais barata (ou seja, tomar uma nova dívida, com taxa de juros mais baixa, para pagar a primeira).

MAS MUITA ATENÇÃO AQUI: olhe bem os números e avalie com cuidado essa decisão para não se complicar ainda mais. Estou falando de situações como trocar uma dívida em cheque especial do banco para uma dívida de empréstimo pessoal, por exemplo, que em geral tem taxas de juro mais baixas.

E lembre-se: nessas duas etapas, você está buscando diminuir o valor total da dívida e a taxa de juros. Não confunda isso com diminuir o valor mensal de pagamento da dívida.

Um valor mensal menor de pagamento não significa que a sua dívida diminuiu. Ela pode, inclusive, ter aumentado. Só ficou com um valor mensal menor porque o prazo de pagamento aumentou. Então, muita atenção com isso!

  • Já, se você está descontrolado:

As dívidas comprometem mais de 30% da sua renda mensal?

Normalmente, nessa situação você não consegue fazer o pagamento total das prestações das suas dívidas ou o pagamento total da fatura do cartão de crédito. É a famosa “bola de neve” do caos financeiro.

Aqui, o primeiro passo pode parecer polêmico, mas confie em mim:

A. Suspenda os pagamentos

Se você continuar pagando apenas uma parte de cada dívida (por exemplo, está pagando somente o valor mínimo do cartão de crédito a cada mês), só vai piorar a sua situação. A sua dívida, na verdade, estará aumentando em vez de diminuir. Então, suspenda os pagamentos!

Quais são as consequências disso? Você precisa saber que vai ficar inadimplente. Isso significa que, muito provavelmente, vai ficar com o nome sujo (SPC, SERASA, etc.) e não terá mais acesso a crédito (empréstimo).

Outra possível consequência é o bloqueio de bens: você poderá ter algum bem bloqueado por processo judicial (normalmente, quando a sua dívida é relacionada à aquisição desse bem – exemplo: dívida de compra de carro). Ou sofrer cobranças extrajudiciais (o que significa que você vai receber um monte de ligações chatas de cobrança).

É fundamental que você esteja ciente do que vai passar se escolher esse caminho. Não será fácil. Mas isso será apenas temporário, fique tranquilo!

ATENÇÃO: preciso reforçar que você só deve usar essa estratégia quando suas dívidas estão descontroladas. E que isso é apenas uma medida temporária para que você se organize e volte a pagá-las.

Não quero, de maneira nenhuma, que você pense que não deve pagar as dívidas. Tenha também muito cuidado com o possível bloqueio de bens que podem afetar outras pessoas da sua família.

B. Entre em “cenário de guerra”

Lembra das medidas drásticas para situações drásticas? Chegou esse momento! Você vai precisar mudar a forma de viver.

Isso exigirá muito esforço seu e da sua família – ah, eles precisam estar cientes da situação para “comprar a briga” com você, OK? Não adianta esconder a situação da família e esperar que eles colaborem.

Algumas coisas que você pode fazer:

  • Vender bens (podem ser móveis, roupas, etc.)
  • Mudar o padrão de vida (exemplo: não fazer refeições fora de casa)
  • Cortar todos os gastos que não são essenciais para viver (corte academia, passeios no horário livre, televisão à cabo, etc.)
  • Buscar uma nova fonte de renda: usar o seu conhecimento e o seu tempo para ter uma nova fonte de dinheiro (exemplo: prestar serviços domésticos para os seus vizinhos, fazer refeições prontas para vender, etc.)
  • Buscar ajuda com familiares e amigos (muito cuidado com essa alternativa, para não fazer novas dívidas e nem estragar relacionamentos – eu recomendo usar apenas como última alternativa)

C. Chegue em um cenário controlado

Os passos A e B anteriores tem um objetivo claro: permitir que você chegue em um cenário controlado, em que o pagamento das dívidas representa menos de 30% da sua receita mensal e/ou em que você consegue pagar todas as parcelas das dívidas todos os meses.

Quando isso acontecer, então você deverá começar a executar os 2 passos que apresentei mais acima, para quem está controlado. Nesse momento, você voltará a pagar seus credores.

Ufa! Fazendo tudo isso, você terá sucesso em se livrar das dívidas. Não será fácil, então conte com o apoio da sua família e amigos, principalmente para te dar apoio emocional e para aceitar o seu novo padrão de vida nessa fase.

4. Acompanhe seus ganhos e gastos

Outro passo importante para a organização financeira é saber quanto você ganha e quanto gasta todos os meses. Para fazer isso, também não há segredo: anote tudo o que você ganha e gasta por, pelo menos, 3 meses (para começar, é tudo mesmo: não seja preguiçoso).

Anote isso de forma categorizada: agrupe as receitas e despesas por grupos similares, de acordo com a sua característica. Na minha experiência, 3 meses é um bom período para ter ideia de como são suas receitas e despesas.

O formato também é livre: como funcionar melhor para você. Eu recomendo que você use a nossa Planilha Gratuita de Acompanhamento de Gastos Mensais. Ela já tem o passo-a-passo pronto e os principais itens de despesas mapeados.

Ao fazer esse exercício, você terá uma boa ideia do seu fluxo de caixa mensal, que nada mais é do que quanto você ganha e quanto e como gasta. Com esse simples exercício, você já terá noção de quais despesas pode reduzir ou eliminar.

A partir daí:

5. Defina metas de orçamento

metas de orçamento financeiro

Determine seu orçamento-meta para cada item: defina quanto você deveria gastar no mês para ficar em uma situação financeira confortável.

Uma dica: elenque suas 3 principais despesas e coloque uma meta de redução de 10 a 15% para cada uma delas.

Você vai se surpreender quando perceber que há formas criativas de reduzir essas despesas (exemplo: cozinhar mais em casa para reduzir custo com alimentação em restaurantes). E a meta com você mesmo vai te obrigar a correr atrás dessas soluções.

Agora que você tem o cenário atual (seu fluxo de caixa) e o cenário desejado (seu orçamento-meta), é hora de ir para a prática: mudar o seu comportamento para ficar dentro da meta. Na maioria das vezes, o maior inimigo será a sua família ou os seus amigos.

Isso mesmo. Não é por mal, mas eles vão te convidar para fazer coisas, como refeições em restaurantes, gastar em passeios no shopping, ir para baladas… e você precisará se manter fiel ao seu plano.

Seu orçamento-meta prevê apenas 1 refeição fora de casa no final de semana? Então cumpra isso! Seja fiel a você mesmo. O Nícolas, Planejador Financeiro aqui no Clube do Valor, costuma responder, quando alguém o convida para fazer algo que está fora do seu orçamento: “Não posso, acabou meu dinheiro para o lazer esse mês!”.

Gostei tanto que estou implementando na minha vida. Se você não tem essa transparência (ou cara de pau mesmo), só recuse o convite.

6. Mantenha o acompanhamento meta x realizado

A cada mês, você seguirá anotando tudo o que ganha e tudo o que gasta, e comparando o resultado com o orçamento-meta. Avalie o que deu certo, o que não deu e ajuste a meta para o próximo mês. E aí anote e analise tudo de novo… bom, você já entendeu. Vá repetindo esse ciclo todos os meses.

Você verá que é uma evolução gradual. Por experiência, mais 3 meses de comparação do realizado com a meta e você já terá melhorado muito. A partir daí, você decide se continua a fazer isso mensalmente, a cada dois meses ou em intervalos maiores.

Depende de você e do quão confortável você já estará com a sua situação financeira. Atualmente, eu já estou num estágio em que faço isso a cada 6 meses. Conheço outras pessoas que nem fazem mais esse exercício e seguem organizadas financeiramente.

7. Busque uma fonte de renda extra

Até agora falei mais sobre métodos para organizar e reduzir suas despesas. Mas tão importante quanto é olhar para o outro lado da equação receita menos despesas: as receitas. Outra forma muito eficiente de melhorar sua vida financeira é aumentar e diversificar suas fontes de renda.

Se você tem alguma habilidade extra ou já ganhou dinheiro com algo diferente da sua profissão atual, então é provável que você já saiba como pode fazer para ter uma renda extra. Em caso negativo, reflita: que outras atividades fora a sua profissão você sabe fazer? Que problemas já resolveu na sua vida e talvez para outras pessoas? O que as outras pessoas reconhecem como habilidades que você tem?

Se você não sabe, pergunte! Busque 3 a 5 pessoas próximas e pergunte a elas: “No que você vê que eu sou bom? Que problemas eu já te ajudei a resolver? O que você reconhece como habilidades únicas que eu tenho?”.

Isso vai te dar uma boa ideia do que você pode começar a fazer para ter renda extra. Pegue essa lista de ideias e priorize da que parece melhor para a que parece pior. Novamente, procure pessoas próximas e explique a elas as suas três melhores ideias

Pergunte o que elas acham e o que poderia melhorar na sua ideia. Pronto. Você terá algumas boas ideias, validadas e melhoradas por outras pessoas.

A partir daí, selecione a que parece melhor e comece a executar. Por exemplo: as pessoas dizem que você cozinha bem. Por que não fazer refeições congeladas e vender para seus vizinhos e colegas de trabalho?

8. Tenha uma reserva de emergência

Reserva de emergência

As emergências acontecem para todos nós. Como o nome diz: se é uma emergência, não pode ser prevista. Certo? Mais ou menos. Talvez você não possa prever todas as emergências, mas com certeza você pode estar preparado financeiramente para elas. Percebe a diferença?

Você não tem como prever que o pneu do seu carro vai furar no meio de uma viagem de férias com a sua família. Mas você pode ter dinheiro guardado para comprar um novo pneu e resolver essa situação sem prejudicar as suas tão aguardadas férias.

A reserva de emergência é um valor que você deve ter guardado para esse tipo de… emergência (!). Ele deve estar em alguma aplicação segura e a qual você tenha acesso imediato, se precisar.

A sua conta bancária não é recomendada: não é seguro e você não quer deixar dinheiro parado (lembre-se de evitar esse comportamento). Os melhores investimentos para a sua reserva são o Tesouro Direto Selic e CDBs pós-fixados atrelados ao CDI e de liquidez diária (esse artigo fala mais sobre isso).

E quanto deixar na reserva de emergência? Se você seguiu o método, agora já tem uma boa ideia dos seus gastos mensais. A recomendação é que a reserva de emergência tenha entre 6 a 12 meses do seu custo de vida mensal.

Por exemplo: se seu custo de vida é de R$ 4.000/mês, sua reserva deve ter entre R$ 24.000 e R$ 48.000. A decisão é sua. Leve em consideração seu perfil de risco (mais conservador ou mais arrojado) e a estabilidade da sua profissão – se você é funcionário público, precisa de menos meses na reserva de emergência do que um profissional autônomo, por exemplo.  

9. Invista seus ganhos

Já falei sobre a importância de não deixar o dinheiro parado. E aplicando tudo o que mostrei até aqui, é bem provável que logo você comece a ver dinheiro sobrando a cada mês.

O que você deve começar a fazer é investir. Não deixe dinheiro parado e nem caia na tentação de logo aumentar seu custo de vida (deixe sempre uma margem de segurança entre seu custo de vida e o que você ganha).

Não existe o “melhor investimento do mundo”, então não posso te dar uma dica simples aqui. A minha recomendação é:

10. Estude sobre finanças e investimentos

Comece a estudar sobre o assunto. Assim, você vai entendendo mais e aos poucos vai tendo clareza e segurança para investir.

Deixo aqui alguns textos do nosso blog que são ótimos para você começar no assunto:

Conclusão

Agora você tem tudo à sua disposição para sair do caos e resolver a sua vida financeira. Lembre-se: os comportamentos e o método (a planilha, o acompanhamento mensal, etc.) devem andar juntos. Um sem o outro não resolve.

Mantenha a consistência e a disciplina dos seus planos. Isso é o que você precisa para vencer essa maratona da vida financeira. Apenas alguma empolgação após ler este texto não será suficiente…você vai correr apenas 100 metros, mas não chegará nem perto de concluir a maratona.

Espero te ver logo no grupo dos poupadores (ou maratonistas)!

Saia das dívidas e multiplique seu patrimônio

Ah, e quando começar a poupar, lembre: não deixe o dinheiro parado! Comece logo a investir para seguir melhorando sua vida financeira.

Confira os nossos cursos que vão te ajudar a dar os primeiros passos como investidor:

Escreva nos comentários se consegui te ajudar e também se você tem outras dicas de organização financeira que não escrevi aqui. Quem sabe elas viram conteúdo de um próximo texto!

Por fim, não deixe de conferir os conteúdos gratuitos e continue desenvolvendo a sua educação financeira no instagramyoutube e facebook.

Grande abraço e sucesso!