Me deparei, esses dias, com essa charge passando na timeline de alguma rede social e tive que me segurar para não rir alto.
Tem uma série de coisas nela que, para mim, são absurdos cômicos. E eu fiquei um tempo ali parado, tentando entender do que exatamente eu estava achando mais graça.
Não sei se foi do fato de o moço do carrinho oferecer a segunda alternativa, como se fosse algo normal.
Ou se foi do fato de o sujeito ainda estar em dúvida de qual sabor escolher, dadas as alternativas.
Ou ainda se foi da completa falta de noção da realidade, na qual ele estava inserido naquele momento delicado da sua vida…
…aparentemente não se dando conta de quão lascado ele estava e de quão sortudo ele foi de encontrar um carrinho de sorvete no meio do deserto.
Tipo, não basta ter se salvado da morte certa por desidratação? Ainda esperava encontrar seu sabor de sorvete favorito?
Cada um desses absurdos cômicos renderia um paralelo com a realidade do mundo dos investimentos, e daria bastante pano pra manga para uma análise.
O moço oferecendo sorvete de bosta como algo normal, acho que é um que dispensa explicações. Já deve ter evocado de cara algumas associações na cabeça dos nossos inteligentes leitores, por isso vou me ater aos outros dois.
Existem produtos financeiros, serviços e recomendações sabor “bosta” por aí, mas que são vendidos com a maior aparência de normalidade. Bom, vamos ao segundo.
Frequentemente, observo investidores analisando e avaliando as alternativas que se colocam diante deles. Às vezes, até deixando de fazer uma escolha boa ou ótima por ficarem decepcionados de não terem encontrado a opção perfeita.
Como o nosso amigo sortudo da charge, que encontrou um carrinho de sorvete no meio do deserto e ficou decepcionado por não ter o sabor favorito dele.
Em investimentos, apesar de escolhas terem um componente individual importante (o melhor para o João não necessariamente será também o melhor para o José, se eles tiverem objetivos ou perfis de risco diferentes), aqui também existe melhor e pior, sim.
Mas não existe o perfeito. O perfeito, infelizmente, é utópico.
Ah, e existe também a “bosta”, não esqueçamos da bosta, ela é bem real.
“Um investimento (ou um gestor) que bata o Ibovespa em todas as janelas de comparação, além de bater também o CDI quando a bolsa cai e que nunca fica atrás da inflação” seria perfeito, não seria?
Pois é, mas um investimento assim, ou uma gestão assim, existe apenas no nosso imaginário, não existe na vida real.
O melhor que o investidor pode e deve buscar é o ótimo.
O “ótimo” seria, basicamente, uma carteira composta por classes de ativos geradores de renda, em uma alocação construída com base no perfil de risco e nos objetivos dele.
E que fosse rebalanceada periodicamente, sendo que, dentro de cada classe de ativos, é executada uma estratégia clara e sistemática de gestão ativa, com resultados acima da média daquela classe.
O “bom” seria essa mesma alocação, mas sem a gestão ativa dentro de cada classe.
Descendo mais a escada, o “ruim” seria investimentos que, para um mesmo risco que outros “bons” têm, oferecem menos retorno, como: FGTS, Poupança, COEs, títulos de capitalização e consórcios.
E a “bosta” seriam: as pirâmides financeiras, o day trade, as opções binárias, as moedas e criptomoedas e as NFTs.
Se você quiser ser um investidor de sucesso, já vai se aproximar do seu objetivo só de não pisar na merda (desculpe, o termo correto é “bosta”) e evitar os investimentos ruins também.
Gerenciamento de expectativas nos investimentos
A terceira piada embutida na charge me remete à questão da calibragem de expectativas, que é também uma etapa muito importante na jornada do investidor rumo à independência e tranquilidade financeira.
Mas, André, o que seriam expectativas razoáveis?
Em resumo, seriam aquelas que não ficam muito longe do que é a taxa livre de risco daquela moeda.
No caso do Brasil, é a SELIC, que, no momento em que essa coluna é escrita, está em 12,75% ao ano, o que dá cerca de 1% ao mês.
Para investimentos em crédito privado (CDBs, LCIs, LCAs, CRIs, CRAs, debêntures, etc), adicione mais 2% ao ano à SELIC para formar sua expectativa razoável.
No caso de investimentos de renda fixa em geral, ainda é importante ter em mente que eles também podem apresentar desempenho negativo em determinados períodos, principalmente quando a SELIC sobe.
Ou seja, a renda fixa não é tão fixa assim, e isso é normal.
Já para a renda variável (ações e fundos imobiliários), adicione cerca de 5-6% ao ano à SELIC para formar a sua expectativa razoável.
Aqui, um lembrete importante: renda variável é VARIÁVEL mesmo, portanto esses 5-6% ao ano de rentabilidade a mais do que a SELIC são uma média histórica, não o que de fato vai acontecer religiosamente todo ano.
Portanto, quando você adicionar renda variável ao seu portfólio, tenha ciência disso.
Será uma decisão sábia, desde que seu horizonte seja de longo prazo e você invista com um gestor profissional ou com base em uma estratégia clara e bem fundamentada.
Para que você consiga dormir tranquilo nos momentos de queda.
De qualquer forma, além das calibragens acima, o mais importante aqui é, novamente, ajustar o cérebro para rapidamente saber reconhecer e evitar… a “bosta” – promessas, garantias ou expectativas de retorno muito acima das expectativas razoáveis que descrevi acima (que podem parecer perfeitas, mas são forte indicativo de uma pirâmide ou outro golpe).
Acho que podemos resumir da seguinte forma: o maior perigo que um investidor corre quando não pilota suas expectativas dentro dos limites razoáveis, ou quando busca o utópico, é desviar da trilha correta e pisar na “bosta”.
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Depois de escrever tudo isso, fiquei com vontade de ir pegar um sorvete de morango para mim. Que também não é o meu preferido, mas é doce e gelado, o que já faz dele uma ótima sobremesa.
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Um abraço e boa semana!